domingo, 30 de novembro de 2008

Rezar Para o Reino da Terra

Tenho um bloquinho de anotações que costumo manter sempre por perto para anotar coisas que tenha visto e me interessado. Às vezes é só um pensamento que me ocorreu e que anoto para refletir em outros momentos. Muitas vezes perco a referência de como ou quando uma certa anotação ocorreu. É o caso do que ocorre agora. Achei umas frases soltas por aqui e embora as tarefas sejam muitas neste final de ano, resolvi escrever. Começo por uma anotação que fiz enquanto assistia uma exposição de fotos sobre o Círio de Nazaré (Belém-Pa) juntamente com algumas frases catadas aqui e ali.

Na exposição estavam retratadas diversas demonstrações de fé do povo. Pessoas penitenciando-se para pagar graças atingidas ou pretendidas. Os rostos deformados pelo sofrimento forneciam um quadro perturbador e difícil de ser ignorado. São pessoas simples e que devotam seus sonhos e suas esperanças em algo além de sua compreensão, chegando a extremos de autoflagelação.

É complicado de analisar a conjuntura sócio-religiosa atual, mas vale a pena a tentativa. O que estes penitentes buscam? Quais as motivações que os leva acreditar que seu sacrifício será recompensado? Mesmo após muitas falhas, por que nunca deixam de acreditar? Essas são apenas algumas questões dentre milhares que poderia ser tratado.

É interessante notar que o nosso mundo tem se tornado mais “espiritualizado”. Por que as aspas? Porque as pessoas usam essa “energia espiritual” para conseguirem coisas materiais! É incomodativo pensar que as pessoas rezam para conseguir um emprego, uma casa, um carro, saúde, para si e para os seus queridos. Esse tipo de pedidos são tão comuns que as pessoas já não percebem o disparate que eles representam. A impressão que dá é que os grandes mistérios antigos perdem seu sentido nas mãos daqueles que usurpam a fé em benefício próprio. No final das contas troca-se sua própria vontade por uma série de rituais vazios (isso me lembra uma peça de teatro que assisti, mas que é assunto pra outro post). Parece que sou um pouco pessimista, pois estou criticando aqueles que simplesmente rezam por saúde. Mas até isso é algo desvirtuado. Nas lições que Cristo deixou, ele sempre foi bem claro que a recompensa que ele prometia a todos era espiritual, não material. O fato de ele dar alívio aos doentes às vezes soa como mais importante do que as mensagens que ele deixou. Acho que curar os doentes foi só uma forma de chamar a atenção, uma forma de propaganda primitiva. Primitiva mas eficiente. Mas como em todo o tipo de propaganda, há o risco de a mensagem ser mal compreendida (acho que seja esse o caso). É como você olhar um comercial de carro com ar condicionado e comprar um com a finalidade única de não passar calor. O fato de o carro servir para locomoção ficando em segundo plano.

O que os penitentes buscam? Coisas materiais. O que os leva a acreditar? A pressão de ter uma vida sem os confortos que as posses materiais proporcionam. Por que nunca deixam de acreditar? Porque são levados a acreditar que esse é o único meio de mudar suas vidas para “melhor”.

Onde ficam as mensagens do Cristo que eles veneram? Trancafiadas em interpretações direcionadas a mantê-los cativos de instituições religiosas lucrativas. Lembrem-se que Cristo sempre orientou que as pessoas que estivessem jejuando não dessem sinais de que o faziam. Sacrifícios pessoais são de foro íntimo e devem ser realizados por crença e não por interesse. Buscando o quê? Conforto e equilíbrio espiritual. Nada de posses, nada de material. Desse modo, procissões vão contra tudo o que o próprio mentor do cristianismo estabeleceu.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Divagando Nostalgicamente

Estava aqui escolhendo a trilha sonora (indispensável) para uma tediosa sessão de correção de provas. Esbarrei em “Noves Fora” do Nei Lisboa (1984). Ao ouvir os primeiros acordes de Mônica Tricomônica bateu uma nostalgia tremenda. Nostalgia eu reconheço muito bem. Dá uma coisa estranha no peito, muda a respiração, ficando mais pausada, como se quisesse inverter o fluxo do tempo e respirar os mesmos ares de novo. O olhar fica vago e os pensamentos perdidos. Parece que tudo foi engolfado pela música e nela desliza. A voz do Nei, suave, embala a marcação destas palavras no papel (sim, eu escrevi isso com a caneta, como fazia há 25 anos atrás).

A ânsia de algo por vir, uma noite sem sono, são fáceis de reconhecer, combater e aceitar. A saudade aguda de alguém que se queira ver. A agonia de ver algo ruim acontecer sem poder fazer nada para evitar. O frio na barriga antes de receber uma notícia que pode ser má. Até mesmo uma paixão, irracional, em que a barriga embrulha, as mãos tremem, a respiração ofega e os joelhos amolecem.

Todos esses sentimentos são bem definidos e reconhecidos pois nos acostumamos a senti-los. Mas e qual será a sensação de ... amar?

Mário Quintana disse que “Amar é mudar a alma de casa”. Alguém arrisca? Alguém acredita? Talvez o amor seja como um fermento que faz com que a alma se expanda e se abra, podendo-se então transferir uma parte dela para uma nova casa, deixando um espaço para abrigar um pedaço de outra (que ninguém garante que será ocupada por quem se deseja). Pois é, não há certeza de nada :( ...

Eta troço complicado...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nasceuuuuuu!!!

Nasceu o meu sobrinho!!!! Cassius Calsing Tarragô.

domingo, 26 de outubro de 2008

Tocando em Frente

Apesar do título não vou fazer nenhum comentário a respeito da belíssima música de Almir Sater/Renato Teixeira.

Durante boa parte do meu dia me dedico a reflexões. Diversas em forma, conteúdo, modo de abordagem, profundidade, etc. Seja na hora de acordar, de dormir, nos translados pelos coletivos da cidade, resumindo, em qualquer situação em que minha atenção não é requerida para alguma outra tarefa. Talvez isso seja um reflexo direto da minha formação acadêmica e da forma racional com que costumo tratar as coisas. Para uns esse racionalismo exacerbado é meu principal defeito, para outros, uma qualidade a ser copiada. Confesso que durante muito tempo eu gostei, e muito, de ser assim tão racional e vejo que em algumas situações é bastante conveniente assim sê-lo.

Entretanto de uns tempos para cá tenho tentado ver as coisas sob uma ótica diferente, sair do meu referencial e procurar pontos de vista ainda não explorados. Talvez se eu desconfiasse do que me esperava, possivelmente não saísse do casulo em que me encontrava. Mas uma vez que se rompe o casulo, não há como repará-lo e voltar a se proteger (talvez essa seja a melhor parte disso tudo).

Bueno, a cascata de coisas que acontecem ao executarmos essa mudança de referencial é totalmente imprevisível de ser calculada. O que se torna possível é apenas perceber as mudanças que vão acontecendo e que às vezes nos pegam de surpresa ao tomar atitudes que antes pareceriam impossíveis.

Assisti há algum tempo atrás um ensaio de uma apresentação de crianças de escolas municipais. Possivelmente todas carentes de recursos financeiros. Mas à frente dessas crianças haviam profissionais interessadíssimos no desenvolvimento pessoal delas. Ensinando, orientando, cobrando, enfim, educando-as e tirando delas uma capacidade artística que muito provavelmente elas ignorassem. Ao observar a dedicação de cada um a sua tarefa era impossível ficar impassível. A alegria do local era contagiante e o resultado digno de artistas de primeira qualidade.

Depois de presenciar isso, parei para refletir sobre o que me havia tocado tanto no meio daquilo tudo. Acho que foi o fato de que pessoas com formação acadêmica estavam ensinando os rudimentos da arte a crianças com uma realidade muito dura, acreditando no potencial delas e acima de tudo fazendo-as acreditar no seu próprio potencial. Eis aí o ponto. Eles usam a sua experiência e formação profissional para tornar melhor a vida dos outros. Na verdade acho que aí reside um pouco a essência da tarefa de ser professor. Não simplesmente ensinar a sua matéria, mas a todo momento que for possível interagir com as pessoas, que durante essa fase da vida são chamadas de alunos.

A tarefa de um professor é muito árdua e mal reconhecida pela nossa sociedade por motivos que agora não convêm discutir. Mas uma parcela da culpa é dos próprios professores que às vezes não são as pessoas forjadas para o trabalho. Também não entro em outros desdobramentos que o assunto poderia ter. Me apego somente a características fundamenta da função: Educar. Educar em seu sentido mais amplo, formar um indivíduo para uma vida sadia em sociedade. Nem todos que atualmente trabalham com isso são pessoas preparadas para uma tarefa com tanta responsabilidade.

Parece que estou bombardeando a categoria a qual pertenço. Na verdade estou justamente defendendo e valorizando-a. Não quero dizer com isso que sou um professor perfeito, longe disso. Só estou ressaltando que tem gente que não foi forjado para isso e que boa parte de estar preparado para enfrentar a sala de aula está na vontade de educar. O que tudo isso tem a ver com o início do texto? Simples. Durante muito tempo ser um "ensinador de matéria" para mim foi satisfatório. Agora vejo que meu trabalho durante um tempo ficou pela metade, justamente quando percebo que meu outrora exacerbado racionalismo (não que ele não exista, mas tou tentando dar um jeito nele) me impedia de ver algo além de alunos como sendo meros números de estatística. Livre de uma parte dessas amarras percebo agora que tenho um alento, um desafio e uma motivação para seguir em sala de aula e que, de fato, é o meu lugar. Trabalhar com o que se gosta é uma parte importante da vida e agora percebo vários dos porquês que me levam a pensar que fiz a escolha certa. Trabalhar com a formação de pessoas e na descoberta de suas potencialidades é algo muito gratificante.

Agora falta família e filhos heheheh!!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sobre o Tempo



Fim de semana chuvoso, não dá ânimo para fazer muita coisa. Ao menos pensar e escrever nos deixam secos. E aí lá vai mais poesia de físico.

Passado, Presente ou Futuro?

Antes, agora, depois
Qual a diferença?
Daqui-a-pouco virou agora que já é antes
O antes do agora o que me deixou?
Seu rastro no passar das horas.
Uma hora que outrora já fora futuro
E que agora me faz pensar que a perdi
Não volta, a não ser nas lembranças,
Que, por fim, é tudo que sobra.
É tudo que somos, onde fomos.
Onde iremos? Onde estamos?
E no tempo destes versos o tempo se foi
Não volta, como o agora
Que já foi depois e será o antes.


O Tempo e a Vida

Um sorriso de criança...
A mão do tempo nos alcança
Nos tira da alvorada e nos lança
Em um turbilhão, se esperança

Escreve sua sentença
Não interessa a quem pertença
Com fé ou com indiferença
Destrói tudo o que pensa

O que resta é levar adiante
Sem tentar nenhum levante
Nenhum inútil rompante

E de tudo, o amor é a essência
Amar sem resistência
É o que suporta nossa fugaz existência

domingo, 21 de setembro de 2008

O que se esconde
Detrás de cada sorriso?
O que visualizo
Vai para onde?

Como saber o próximo passo
Se vejo em cada pedaço
Do mundo um laço,
Um tombo de um ser que se vai
No seu rastro uma dúvida
Fluindo no pensamento que se esvai
Por que essa vida?
Por que este presente?
Se o que se sente
É o que se vê na hora.
Se acaba, porque não agora?

Para uma amiga que desistiu :(

domingo, 31 de agosto de 2008

Raras Amizades

Dia frio em Porto Alegre e lá estou eu arrumando as coisas para ir a um casamento a centenas de quilômetros daqui em um lugar mais frio ainda. Na verdade gostaria eu de ser um dos participantes dele, mas por enquanto posso somente assistir. Inveja? Não. Estou exultante de felicidade. Hmmm! Feliz de viajar e ver um casamento? “Agora endoidou de vez”. Reconheço que parece coisa de doido, afinal, me deslocar de ônibus, sem saber onde ficar, dormir, chegar, assistir uma missa e, ainda assim, estar feliz?

Pois é, a gente conhece pessoas na vida, elas vão e vêm. Umas passam, outras ficam. Algumas são conhecidas, outras são amigas. E amigos, os tenho em pequena quantidade, conhecidos, aos montes. E mesmo para aqueles que chamo de amigo, confesso, não sou muito dedicado. Alguns passo meses sem ver, alguns, anos. Não recuso convites para estar com eles, mas, geralmente, não tomo iniciativa de procurá-los. Talvez seja um reflexo de uma auto-suficiência arrogante (da qual atualmente tento me livrar) que me acompanha há um bom tempo. Mais estranho ainda que eu me disponibilize a descer do meu pedestal para sair com rumo incerto pela estrada.

O que realizou este milagre? Simples. Amizade, talvez como nunca tenha encontrado outra. Nos dez anos que eu e esse cara tivemos sem ter convivência diária, ele me procurou um bocado de vezes. Não o procurei, sequer uma. Sempre tivemos afinidades de idéias sobre diversos assuntos, e quando conversávamos, falávamos de idéias e ideais. O que me foi exigido? Nada além de ser eu mesmo. É, ele conseguia ver em mim coisas boas, que eu mesmo nunca tinha percebido. E, à parte de toda a minha passividade em relação a procurá-lo, ele jamais deixou de contar comigo, e creio jamais tê-lo desapontado. Hoje tenho certeza que, mesmo que o tivesse desapontado, passaríamos por cima de tudo. Posso dizer sem medo de errar que esse cara me ensinou um bocado a respeito do que é ser amigo. Incondicionalmente disposto a ajudar e ser ajudado. Abrir o coração sem medo de julgamentos ou preconceitos.

Ele me ensinou que ser amigo é ser prudente sem ser castrador, é ser positivo sem ser irresponsável, a se preocupar com a vida do outro sem querer nada em troca. Me ensinou que às vezes só calar e ficar do lado é melhor do que falar e que às vezes a gente tem que ouvir umas verdades. Foi uma das poucas pessoas que não me condenou quando me separei. Simplesmente ficou ao meu lado e disse que a vida continua.

Ah! Ele não sabia de todo apreço que tenho por ele, mas felizmente pude falar tudo dessa vez, lacrimejamos um pouco e nossa amizade continua firme como sempre, mas agora, mais franca, sem os pudores que geralmente os homens e os tímidos refream ao falar sobre seus sentimentos. Desejo a ele toda felicidade do mundo em sua vida conjugal e que, apesar da gigantesca distância que agora nos separa (foi morar realmente muito longe), que sempre conte comigo para tudo.

Amizades assim são raras de encontrar, cultive-as e seja feliz.

sábado, 30 de agosto de 2008

Perdendo Coisas

Perder coisas e pessoas faz parte da vida. Algumas perdas acontecem rapidamente, nos levando a um estado de lamento desesperado. Outras se anunciam com antecedência e levam algum tempo para acontecer, nos levando a um estado melancólico até o dia final.

Quando alguém próximo de nós morre inesperadamente fica uma sensação de que faltou algo, algum passeio, alguma piada, algum programa, alguma conversa, algum adeus. A recuperação é demorada. Até hoje lamento a perda de meu pai. Até hoje vejo seu sorriso constante e ingênuo em noites solitárias e chorosas quando a nostalgia bate. O que me faz retornar ao normal é lembrar tudo o que ele me deixou. A união da família, a qual ele sempre prezou muito e, sobretudo a união com meu irmão. Ele costumava dizer: o pai e a mãe vão morrer, mas o mano vai ser o teu companheiro a vida toda, não briga com ele.

Quando sabemos que a perda vai ocorrer, temos tempo de nos preparar para o momento, não que isto diminua a dor da perda, mas faz com que a recuperação seja mais rápida. Como um casamento que se encaminha para o seu fim. As coisas não funcionam direito, o diálogo já não flui naturalmente, somos levados inconscientemente a um estado melancólico e isolado que somente apressa a separação.

Quando sabemos que alguém muito próximo está de viagem, temos tempo para nos preparar para o momento final, mas nada impede as lágrimas e a sensação de perda. Ao sabermos que um parente está doente e em breve morrerá, ocorre o mesmo. Em todas estas situações de espera pelo momento da perda nos preparamos aparentemente em vão, pois quando ela chega as emoções inevitavelmente afloram.

Entretanto o que percebo é que quando temos tempo para nos preparar o período de recuperação é mais tranqüilo e curto, parece que o sofrimento prévio serviu para colocar as idéias nos lugares certos.

Recentemente fiquei sabendo que a escola onde trabalho foi sumariamente vendida por incompetência administrativa. Parece bastante claro para mim que as condições de trabalho mudarão demais para que eu possa continuar trabalhando por lá. Estou me preparando para a despedida e, por mais que eu não queira me deixar afetar, já aconteceu. Ao longo do tempo em que lá trabalhei, conheci muitas pessoas que, cada uma a seu modo, fazem hoje parte do que eu me tornei. São colegas, mais ou menos próximos, que interagem comigo e a cada momento me fazem perceber o que sou e o que pareço. Além deles, o convívio com os alunos é muito gratificante, sempre me propondo situações e idéias que me levam a superar barreiras, afetivas e profissionais. Quando entrei na sala de aula pela primeira vez depois da notícia (casualmente a turma com que tenho maior identificação) senti algo diferente no ar, no chão, nos rostos, em tudo. Já comecei a me sentir meio estranho ao ambiente.

De qualquer modo, o momento da separação um dia chegará e após ele a vida continuará. Como sempre, tentarei levar de cada uma daquelas pessoas que encontrei no caminho somente as coisas boas que me passaram. As coisas que me incomodaram, ficam para trás sem rancores. Espero poder sair de lá melhor do que entrei e levando apenas o que for construtivo.

domingo, 24 de agosto de 2008

Olha o medo aí

Enquanto espero a final olímpica do vôlei masculino, recordo uma frase que ouvi de um aluno na semana que passou. Disse ele: O medo controla tudo. Bom, no final das contas acabamos em teorias da conspiração envolvendo Popeye e os efeitos alucinógenos do espinafre quando fumado e a sua relação com ET´s e o poder sobre a terra (rimos demais). Conspirações à parte, ao justificar que o medo manda em tudo ele exemplificou que eles estudam com medo de tirar nota baixa; não rouba com medo de ser presos, etc.

Na verdade o medo é uma arma poderosa que vem sendo usada por milênios na formação da sociedade. Todas as leis de todos os países determinam preceitos a serem seguidos se as pessoas querem evitar ... punição. As tábuas da lei de Moisés mostram o que não deve ser feito para ... não ser punido. O Alcorão determina regras para que as pessoas não serem punidas. Que os países tenham leis e regras é bastante aceitável e, possivelmente necessária, tendo em vista a natureza vil do homem. Mas as religiões ao menos deveriam fomentar comportamentos socialmente sadios sem recorrer ao medo. Talvez as religiões orientais como o Budismo ou o Taoísmo sejam as que mais se aproximem desse papel.

Descendo ao nível das relações de trabalho, observamos que praticamente todas as pessoas têm medo de perder seus empregos. Nada demais, afinal todos têm que pagar suas contas, sustentar a família e fazê-la evoluir com segurança. Entretanto percebemos que, salvo em algumas exceções, as pessoas não mudam seus empregos para se dedicarem a alguma atividade que gostem mais pelo medo da mudança.

Até mesmo em relacionamentos pessoais vemos que as pessoas têm medo de sair da segurança de um relacionamento estável, por mais insatisfatório que seja. Os que estão solteiros têm medo de se entregar e se machucar.

Hoje mesmo fui ao aeroporto me despedir de um amigo que foi para a França. Quando me perguntaram se eu gostaria de ir, falei que sim e que, na verdade, não há nada (exceto a proximidade da minha família) que me impeça de ir. Mas por que eu não vou? Medo! Largar emprego por aqui para viver uma aventura e voltar desempregado!? Muito arriscado. E se não arranjo emprego na volta, vou morar com a mamãe? Hmmm, já passei dessa época.

Medo, medo, medo. Ao final de tudo é ele que mantém as coisas no seu lugar. Ruim, mas necessário. Claro que o ideal é que os alunos queiram ir à escola e que estudem por gostar de aprender; que as pessoas queiram trabalhar com gosto; que os relacionamentos sejam mais francos. Como o ideal é uma utopia, vai com uns medinhos mesmo.

sábado, 23 de agosto de 2008

Noite Pós F.P.




Qual nau solitária que ruma ao horizonte
Me encontrei na entranhas entrelinhas
Dos melancólicos versos
E deles não mais saí
Por horas, dias, anos
Naqueles instantes em que contemplei
A riqueza sucinta de idéias e sentimentos.
No turbilhão de emoções e inquietações
Deparei-me com o insondável e, quando voltei,
Vi que o ponteiro dos segundos mal se movera
Vi que em um segundo se vive uma vida e que
A cada segundo se constrói outra
Que nos chama a pôr o pé no chão
E descer da nave da imaginação

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Contextualizando Kafka

Há alguns dias acabei de ler “A Metamorfose” minha estréia com Kafka. Fui ler evitando os comentários que se encontra por aí aos milhares para fazer uma leitura isenta de expectativas. O estilo cru e enxuto me surpreendeu positivamente. Um texto que ataca diretamente todos os pontos que se propõe a apresentar. Não gosto muito desta coisa de ficar analisando estilos literários e características de escritores ou escolas, mas devo confessar que me identifiquei muito com essa comunicação direta com a essência dos temas. Sem fazer rodeios e descrições desnecessárias cada frase é uma “facada no bucho”. A forma clara e concisa que ele utiliza para expor a essência do ser humano de sua época e sua região nos prende em uma leitura cáustica e cativante.

Estilos à parte é muito interessante a forma que ele aborda as relações familiares, mostrando a relatividade da posição hierárquica das peças de uma família. É claro que as diferenças entre as estruturas familiares atuais e uma família na Alemanha do início do século XX são gritantes, mas a exploração de vários temas lá citados nos leva a algumas reflexões que hoje em dia são muito relevantes.

O livro trata, basicamente, da relação entre as pessoas de uma família que é sustentada pelo filho, que trabalha de caixeiro viajante, e que um dia acorda transformado em algo parecido com uma barata. Doideira!? Nada disso. Uma barata é simplesmente algo inútil para uma família. E, no meu ponto de vista, creio que este seja o tema do livro. O que as pessoas fazem com alguém que se tornou inútil? Inicialmente o horror da descoberta leva a um estado de pena e tenta-se fazer de tudo para o alívio do sofrimento do nosso baratomem. Entretanto as questões práticas da vida obrigam uma reestruturação da família que passa a ter que viver sem o baratomem a lhes prover o sustento. Com isso começam a perceber que na verdade aquele que já lhes foi o arrimo, passa a ser um peso a carregar. O pai aposentado e “inválido” volta a trabalhar, a irmã começa a trabalhar, a mãe começa a trabalhar. E tão pronto o baratomem, que outrora tão caro lhes fora, morre, parece que todos os seus problemas acabam.

Fiz aqui duas leituras, a primeira sobre as atuais relações de trabalho. Todas as empresas procuram funcionários que “vistam a camiseta”. Procuram pessoas que se engajem nos setores de produção, de modo que a empresa passa a tomar um lugar fundamental na vida da pessoa. Apesar de toda a dedicação por anos a fio, você nunca está livre da ameaça de demissão. Diversos fatores podem quebrar as relações de trabalho, fazendo que, de uma hora para outra, aquele funcionário exemplar deixe o quadro dos empregados. TODOS são substituíveis e, assim como nosso baratomem foi deixado para trás (apesar da sua importância num passado bem recente), você também o será. Se quiser um pouco mais de estabilidade, tenha mais de um emprego.

A segunda leitura é a da posição social do idoso. Se você for um dia visitar, por exemplo, o asilo Padre Cacique, ficará encantado com as pessoas que lá encontrará. Às vezes me pergunto como essas pessoas vieram parar aqui - muitas delas possuem muitos familiares – sendo companias tão agradáveis? Simples, as pessoas não querem perder seu tempo com alguém que não dará um retorno financeiro, inclusive sendo fonte de despesas. O carinho e afeto que essas pessoas têm para dar não vale muito no nosso mundinho regido pela necessidade de acumulação de capital. Nada contra a tal acumulação (muito necessária na minha opinião), mas a que custo corremos atrás dela? Deixando a família de lado? Se isso já acontece com muitos pais deixando os filhos de lado para poder trabalhar mais, imaginem o que farão com seus próprios pais e avós. Assim como o baratomem, os idosos são deixados de lado para não atrapalhar.

Se você ainda têm seus pais, vá vê-los, por mais que sejam conturbadas as relações. Quem sabe aquele papo com seu avô, mesmo que seja sobre o tempo ou alguma história que você já conheça. Aproveite o tempo que você ainda tem com eles e desfrute da sua compania. Distribua abraços e afeto a essas pessoas que se esforçaram para lhe formar o caráter, para lhe dar estudo e preceitos morais e éticos. Sinto muito a falta de meu pai, mesmo que eu olhe para trás e veja tudo de bom que aconteceu em nossa vivência. Sempre parece pouco. Mas são boas lembranças. Lembranças de um tempo que passamos juntos e desfrutamos de momentos de imponderável magia, com aquele pozinho brilhante que aparece nos filmes. Cada sorriso, cada beijo e cada abraço que eu recebia dele estão firmes na minha memória como uma linha sempre a me indicar qual o caminho a seguir. Sei que quando a minha mãe se for, terei a mesma sensação de vazio, mas consciente de que tivemos nossos bons momentos, que faço questão de compartilhar sempre que possível. Da efemeridade da vida esses momentos de afeto simples e desinteressado, como um chimarrão com pipoca num domingo a tarde, é o que levamos como bagagem, como aquilo que valeu a pena pôr na bagagem.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Das Relações Virtuais

Nos últimos anos acompanhamos a ascensão das formas eletrônicas de comunicação. A internet que começou como uma ferramenta muito útil para pesquisadores, foi popularizada e o seu acesso amplamente facilitado à população de classe média/alta (falando de Brasil). Com tantas pessoas usando a internet as suas aplicações foram aumentando, foram criados crimes digitais e redes de relacionamento. Tanta facilidade de comunicação aliada a uma série fatores sociais faz com que nossos jovens passem cada vez mais tempo encerrados em casa na frente de seus computadores.

Com a crescente violência que temos testemunhado parece muito bom que tenhamos uma forma segura de nos comunicarmos com parentes e amigos. Além disso, com as redes de relacionamento se abre a possibilidade de conhecer pessoas novas, algumas delas se mostram novas amigas que jamais encontraríamos fora do mundo virtual. No mundo virtual podemos ser quem bem entendemos. A falta de contato físico e a possibilidade de termos mais tempo para pensar na hora de escrever modificam completamente os relacionamentos. Em uma pequena pesquisa, por exemplo, no Orkut, podemos rapidamente saber das preferências de uma pessoa, quais seus gostos musicais, manias e opiniões a respeito de alguns assuntos. Parece tudo bastante satisfatório e, de fato, são vantagens inegáveis.

Entretanto perdemos uma parte importante dos relacionamentos humanos que é o contato físico. No mundo virtual não percebemos a tremulação de uma voz chorosa, não sentimos as lágrimas de um amigo no ombro ou a respiração entrecortada por um largo sorriso. Ninguém coloca no seu Orkut a comunidade: hoje estou precisando de colinho ou hoje estou triste precisando de atenção. Uma verdadeira amizade necessita de um contato mais próximo. O que você escreve no seu computador, são só palavras escritas e não dizem sequer uma parte do que dizem um olhar, um gesto, um silêncio.

O resultado prático de tudo isso é uma geração de adolescentes cada vez mais egocentristas, desacostumados a partilhar. Quem passa muito tempo isolado na frente de um computador acaba perdendo o costume de dividir as coisas, seus pertences, seus sentimentos, suas experiências. Concomitantemente percebe-se que a coordenação motora desses jovens sofre danos cada vez maiores. Tarefas outrora simples como pular corda parecem agora coisas impossíveis de fazer. A noção de sincronicidade necessária à prática de esportes e de algumas brincadeiras fica cada vez mais precária.

É claro que não podemos abrir mão de algumas das vantagens dos relacionamentos virtuais, especialmente a segurança, mas sempre devemos tentar equilibrar as coisas. Se é bom encontrar uma pessoa no MSN, é muito melhor encontrá-la pessoalmente, se foi legal mandar um scrap, melhor ainda seria dizê-lo diretamente. Nem sempre é possível o encontro, mas deixe a preguiça de lado, visite, disponha-se a ser visitado. Não troque a sua vida real pela virtual. Qualquer emoção virtual é facilmente subjugada por uma real. Fomente o contato com seus amigos. Quando você olhar pra trás em busca do que se passou em sua vida você verá que se lembrará quase que exclusivamente de momentos passados ao lado de seus amigos e amores.

domingo, 10 de agosto de 2008

Espanando o Pó

Aproveitando ainda o texto das meninas do último post e uma mensagem de uma ex-aluna em viagem pela Espanha, resolvi escrever mais um pouco.

No texto das meninas apareceram umas frases que tomei como metáforas para algumas reflexões: “De que adianta conquistar o mundo se você não conquistou nem mesmo a sua própria cidade?
É importante conhecer as diferentes culturas, entender o que diversos povos fazem e pensam.
Mas e quando te perguntarem: 'E você, o que se faz na sua cidade?'
Seria legal ter uma resposta para essa pergunta!”. Simples e perfeito, como podemos nos arrojar a conhecer outras pessoas se não sabemos sequer quem somos? O que fazemos com a carga de conhecimento que obtemos do relacionamento com outras pessoas?

Muitas vezes deixamos as coisas acontecerem sem nos perguntarmos o porquê de muitas delas. Às vezes nos pegamos com uma certa sensação de desconforto em algumas companias (sim, eu me recuso a escrever companhias) sem sabermos qual a origem desta sensação e como lidar com ela. Outras vezes é uma incrível sensação de bem-estar em outras companias, sem sabermos a razão desta empatia. Essas coisas “de pele” acontecem seguidamente, sensações que às vezes se desfazem com o convívio mais próximo. É importante que saibamos controlar nossos impulsos iniciais para que possamos analisar tais situações com neutralidade e evitar que se cometam injustiças. Mas como fazer para controlá-los?

A resposta está dentro de cada um de nós e creio que seja muito difícil a encontrarmos sem uma boa dose de autoconhecimento. Toda vez que nos encontramos em uma situação nova tentamos sempre classificá-la em alguma parte de nosso arquivo mental, tentando utilizar uma série de padrões pré-determinados de comparação para finalmente valorar o fato novo que se apresenta. Mas como saber em que gaveta do arquivo devemos colocar as novas informações? Uma boa dica sobre o que fazer é simplesmente gastar algum tempo na organização de suas idéias, assim como uma bibliotecária conhece a sua biblioteca.

Quantas vezes me impressionei, nas bibliotecas que já encontrei pela vida (e não foram poucas), pelo conhecimento que as pessoas que lá trabalhavam tinham acerca do posicionamento da imensa quantidade de volumes que lá estavam. A simplicidade com que elas se locomovem pelas prateleiras e a rapidez com que achavam as informações é algo notável. Entra a segunda parte: “La sencillez de carácter es el resultado natural del pensamiento profundo”. O pensamento profundo corresponde aqui em minhas metáforas com o tempo que você gasta arrumando a sua biblioteca, tirando o pó dos livros e tendo sobre ela um conhecimento mais apurado. Conhecendo a si próprio você aprende a ser simples de caráter, sincero consigo mesmo e a ficar mais seguro a respeito de seus próprios comportamentos. Isso tudo gera tranqüilidade e tolerância com as diferenças, nos fazendo menos ansiosos e precipitados. Com isso passeamos tranquilamente pela nossa biblioteca, que, agora com menos mistérios, parece uma senda mais segura para trilhar os pedregosos caminhos da vida.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Divirta-se

Acabo de assistir dois filmes que me suscitaram algumas reflexões. “Shakespeare Apaixonado” e “Cinema Paradiso”. Apesar de serem totalmente diferentes ambos me levaram a pensar a respeito dos momentos de lazer na nossa vida.

Em Shakespeare Apaixonado é contada uma história sobre uma moça de boa família que é apaixonada pelo teatro e faz de tudo para poder ser atriz (numa época em que somente homens podiam subir ao palco). Não desejo aqui falar sobre a atriz principal ou seus dilemas. Me concentro (me recuso a escrever “Concentro-me”) mais no público, o povão, que é completamente alucinado pelos espetáculos. A mesma coisa acontece em Cinema Paradiso onde as pessoas do vilarejo se reúnem para ver à exaustão os poucos filmes disponíveis em seu cinema, na Itália combalida do pós-guerra.

Nos dois filmes encontramos a imensa expectativa que os espetáculos criavam e as torrentes de emoções causadas por eles. As pessoas esperavam os momentos no teatro (cinema) como se fossem a coisa mais importante do dia. De fato, os panoramas históricos que descrevem os dois filmes são realidades distantes de nós. Quando digo “nós” falo de mim e de você que está lendo este texto, pois, afinal, se você tem um computador conectado à internet e achou esse blog, você ao menos já tem algo a fazer nas suas horas livres. Mas existem pessoas que ainda vivem realidades parecidas com aquelas mostradas nos filmes.

Em algumas cidades do remoto interior do nosso país existem comunidades que não conhecem todos os prazeres que os confortos modernos nos proporcionam. Nessas localidades assistir TV ou um filme no arcaico videocassete são luxos nem sempre acessíveis a todos.

Especialmente em Porto Alegre contamos com uma rede de lazer bastante ampla, que abrange uma gama muito ampla de poderes aquisitivos. Desde os espetáculos gratuitos patrocinados pela prefeitura aos grandes e caros shows dos luxuosos teatros. Além disso, estamos em uma cidade com uma história riquíssima, onde a própria arquitetura dos prédios e suas tradições já são um espetáculo à parte. Já vi pessoas reclamando que não tem nada pra fazer em Porto Alegre. Não sabem procurar, ou então buscam coisas que realmente aqui não existem (mude-se).

(Aqui entrei em dúvida sobre escrever em modo light ou hard, preferi o light. O hard seria sobre fazer da sua vida um imenso momento de lazer/prazer, procurando trabalhar com algo que realmente nos faça felizes e ter coragem de assumir o ônus dessas escolhas).

Fui surpreendido positivamente essa semana por um texto produzido por duas alunas que tem um teor semelhante ao texto acima. Elas, em tenra idade, tiveram a postura de acreditar que poderiam encontrar bons momentos no aparentemente caótico centro de Porto Alegre. Depois disso creio que elas devam ter sido infectadas por aquele bixinho que nos faz pensar que seremos portoalegrenses para sempre (se já não o fossem).

Fica aí o texto das meninas para encerrar:

O Centro

Finalmente! Chegaram as férias! Todo mundo comentando seu destino, arrumando as malas. Uns vão para longe, Bariloche, Porto Seguro, outros vão para perto, Capão, Floripa, Gramado...O desejo é o mesmo: Tirar férias da sua cidade e da sua rotina.
Mas e você que fica por aqui mesmo, faz o que nas suas férias?
Dormir, comer, ver um filminho na Sessão da Tarde...tudo bem, não viajou mesmo não é! Mas já pensou em levantar do sofá, deixar as guloseimas e a preguiça de lado e sair para conhecer, hmm...o centro?!
Achou que eu mandaria você assistir o pôr-do-sol no Guaíba não é? Mas calma, o centro de Porto Alegre não é tão ruim assim! Lá não tem só poluição, assaltos, aquele povo todo que só vai lá para trabalhar e gritar no telefone. Você pode ir o centro, somente para...passear!
E foi isso que nós fizemos nessas férias, que passamos em Poa. Pegamos um ônibus, mesmo sem saber onde ele ia parar, e quando descemos, um novo centro surgiu para nós. Ele era diferente daquele centro que nós íamos nos dias de consultas nos médicos, onde ficávamos horas e horas em enormes filas para conseguir uma nova carteira de identidade.
Durante o caminho é possível ver todo o tipo de gente e descobrir que cada um tem um motivo diferente para estar lá. O nosso objetivo, era apenas passar o tempo, e talvez esse seja o motivo de tantos olhares estranhos. Éramos as únicas que riam à toa, no centro da cidade.
Adivinha? O melhor sorvete de Porto Alegre não se come no shopping, e sim na Banca 40, no Mercado Público. E melhor ainda: O melhor cachorro-quente não é o do Rosário...é o velho e bom cachorro-quente da Princesa, que fica na Rua da Praia(que lá mesmo, descobrimos que é a mesma coisa que Andradas).
Conhecendo as pessoas certas, você ainda consegue entrar no Banco Central do Brasil e ter uma vista privilegiada do tal pôr-do-sol do Guaíba ou sentar na poltrona de um dos mais famosos advogados de Porto Alegre.
É, o centro também é cultura.
São nas ruas mais estreitas, nos becos mais escondidos que encontramos 'pequenos tesouros'. As vezes é por lá que estão as 'primeiras edições' de livros e cd's que não encontramos em lugar algum. Tem até LP do rei! Elvis Presley também tá no centro...
De que adianta conquistar o mundo se você não conquistou nem mesmo a sua própria cidade?
É importante conhecer as diferentes culturas, entender o que diversos povos fazem e pensam.
Mas e quando te perguntarem: 'E você, o que se faz na sua cidade?'
Seria legal ter uma resposta para essa pergunta!
E aí! Te anima em dar uma volta pelo centro?
Por Natália Bass e Caroline Grippa

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Solidão e Convivência

Eu estava lendo um jornal, quando cheguei na parte que mais me interessa (caderno de cultura) e fui passando os olhos sobre os textos até achar a agenda de eventos. Como sempre, li os textos de alguns colunistas e, como sempre pulei Paulo Coelho. Entretanto desta feita ao repassar os olhos por sobre a página, li o título do texto dele e resolvi ler “Da Solidão Completa”. Acho que ele foi um pouco dramático demais, mas me inspirou a pensar e escrever este texto.
Muitas vezes tudo o que desejamos é um pouco de paz, sossego e solidão. Após um longo dia de trabalho, ou às vésperas de um. Durante a execução de uma tarefa, a leitura de um livro ou qualquer outra atividade que exija concentração. Há dias em que estamos mais propícios à meditação (não consigo me imaginar escrevendo este texto com alguém do lado querendo atenção). Há vezes que existe um simples e inexplicável desejo de estar sozinho.
Entretanto devemos separar esta solidão daquela patológica, aquela que aparece mesmo quando estamos rodeados de pessoas. Aquela que angustia e nos faz sentir que está faltando alguma coisa, que nos faz sentir fora deste mundo e tentar buscar respostas a perguntas que nos levam a um profundo desgosto sobre a condição humana. Que nos faz pensar sobre o temos feito de nossa vida e o que temos feito para que ela tome o rumo que desejamos. Que nos faz pensar que talvez nada do que se faça ou deixe de fazer possa preencher o imenso vazio interior que se instala. Que nos leva a refletir que talvez estejamos utilizando o nosso tempo de forma errada (mas nesse caso, o que seria certo fazer?). Nessas horas é que faz falta um relacionamento mais íntimo com alguém que tenha a capacidade de compreender que essas angústias são passageiras, mas que naquele momento um ombro amigo e um carinho dizem mais que mil palavras. Nesses dias de “tou cocô” é que podemos perceber o grau de envolvimento e entendimento entre as pessoas de um casal. Ter um relacionamento estável é uma ótima forma de escapar satisfatoriamente desses momentos de fragilidade.
Mas e quando se quer estar sozinho e essa mesma pessoa que te ajudou está por perto?
Mas e quando o outro “ta cocô” e nossa ajuda é necessária, como agimos?
E quando a necessidade de um estar sozinho acumula com um momento de fragilidade do outro o que fazer?
Não tenho a pretensão de responder a essas perguntas, até mesmo porque cada um deve achar as suas respostas e estas dependerão do grau de envolvimento de cada um com seus parceiros, das combinações e da sensibilidade de cada um. Teoricamente tudo isso – e muito mais – deveria ser pensado quando se aceita a convivência mais próxima de uma pessoa. Mas quantas pessoas será que se dispõem a pensar sobre isso? Talvez a vida conjugal seja justamente a arte de saber equilibrar todas estas coisas.
Certamente não existe um guia para saber como chegar às respostas e acho que as pessoas acabam de fato descobrindo o que realmente pensam sobre estas situações quando estas se apresentam. Saber lidar com elas deveria estar na análise de custo-benefício quando se inicia uma relação. É fundamental saber até onde conseguimos ceder/suportar para que a convivência possa ter alguma chance de dar certo.
Pelo que percebo a maioria das pessoas escolhe o método empírico: testa, vê no que dá, se não der certo, vai para a próxima. Um método válido como qualquer outro. Talvez um pouco mais doloroso, mas mais fácil de aceitar pelos padrões da nossa sociedade, onde a maioria olha para os seus imensos e inchados umbigos em busca de satisfação própria a qualquer custo. Os desejos, anseios e sentimentos alheios não valem muita coisa quando confrontados com as nossas “necessidades”. Este egocentrismo talvez esteja na raiz do próprio modo de ser do homem que parece ter ainda um longo caminho a trilhar até que aprenda a equilibrar as suas necessidades inviduais com as coletivas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vai ser meninoooooooooo

Vai ser meninoooooooo... maninho da Caroooooool.

:))))))))

Beijos a todoooooooos (tudo bem eu sei que são poucos que vão ler isso, mas me deixa ser feliz hehehe).

terça-feira, 24 de junho de 2008

Brain off

Não faz muito o estilo deste blog, mas não resisti a tentação:

Conversa de Pai para Filho

FILHO: Pai, por que o senhor sempre fala que eu tenho que ser Corintiano?

PAI: Porque o Corinthians é o melhor time do mundo filho. É o Timão!

FILHO: Mas o Corinthians não foi rebaixado para a segunda divisão? E o apelido Timão não é porque no símbolo do Corinthians tem um timão de navio?

PAI: Bem, é verdade. Mas nós só fomos rebaixados por causa de uma parceria com um fundo de investimentos chamado MSI que desgraçou o Corinthians.

FILHO: Mas não foi essa MSI que comprou o Tevez, o STJD e o Márcio Rezende de Freitas para garantir o título nacional de 2005 que na verdade foi conquistado pelo Internacional?

PAI: Foi, mas depois....AH, isso não importa filho. Nós somos a maior torcida de São Paulo e a segunda maior do Brasil.

FILHO: Isso é legal né pai!? Mas a Índia e a China são os países mais populosos do mundo e nunca ganharam uma Copa e a Itália, que é um país pequeno e com menos torcida, já tem quatro mundiais não é!?

PAI: É filho, tá certo porra!!!

FILHO: Calma pai, o senhor está bravo só porque o Corinthians não é nada disso que o senhor pensava?

PAI: Pára com isso filho! Nós já fomos campeões mundiais!!!

FILHO: Sério Pai!? Quando?

PAI: Em 2000.

FILHO: Que legal, então nós também ganhamos a Libertadores em 99?

PAI: Não, na verdade quem ganhou a Libertadores em 99 foi o Palmeiras. Você não sabe que nós NUNCA ganhamos uma Libertadores em mais de 90 anos de história!?

FILHO: Ué, então porque o Corinthians jogou esse mundial em 2000?

PAI: Ah! É que fomos convidados para jogar porque ganhamos o Brasileirão em 98 e tínhamos o apoio de um grupo de investidores estrangeiros que precisava colocar o Corinthians lá. O Vasco ganhou a Libertadores de 98 e também foi chamado.

FILHO: Entendi. Então na Europa chamaram o campeão da Liga dos Campeões da UEFA de 98?

PAI: Sim, mas também chamaram o Manchester, que venceu a Liga em 99.

FILHO: Então por que não chamaram o Palmeiras? Porque o campeão Sul-americano de 99 não foi e o Corinthians que nunca passou de uma semi de Libertadores foi?

PAI: Não sei filho, mas que merda!!!!

FILHO: Então esse torneio não foi sério. Não teve critério para as escolhas dos clubes! Mas o Corinthians ganhou do Manchester e do Real Madrid né pai?

PAI: Não. Na verdade ganhamos do perigoso Raja Casablanca com um gol roubado em que a bola não entrou, empatamos com o Real Madrid, no Morumbi, graças ao Anelka que perdeu um pênalti e depois goleamos o poderoso Al Nasser por dois a zero.

FILHO: E na final ganhamos de quem?

PAI: Na verdade não ganhamos. Empatamos com o Vasco por zero a zero no Maracanã e o "título" veio nos pênaltis.

FILHO: Quem foi o herói Corintiano que fez o gol do título?

PAI: Ninguém. Na verdade o Edmundo chutou pra fora e nós ganhamos.

FILHO: Mas esse ano comemoramos 30 anos do título de 77. Que campeonato foi esse tão importante?

PAI: Foi o Campeonato Paulista. Saímos de uma fila de 22 anos sem título com gol de Basílio contra a fantástica Ponte Preta.

FILHO: Ah, sei. Mas não foi nesse jogo que o Rui Rei, artilheiro da Ponte, se vendeu e foi expulso logo no começo do jogo só pra não fazer gols e assim ajudar o Corinthians?

PAI: Foi seu filho da puta, mas e daí!?

FILHO: Mas pai. Esse ano o São Paulo completou 30 anos do primeiro título Brasileiro que conquistou e ao invés de festa e camiseta comemorativa, ganhou mais um e agora eles são Penta.

PAI: Foda-se filho! Eles são Bambis!!!!

FILHO: São Pai? Mas eles me dizem que são Penta Brasileiro, Tri da Libertadores e Tri Mundial. É verdade?

PAI: É verdade filho! (de cabeça baixa)

FILHO: É verdade também que se não fosse um tal de Grafite, atacante do São Paulo, nós teríamos sido rebaixados também no Paulistão?

PAI: Você não quer falar de Fórmula 1!?

FILHO: Tá bom pai. Mas o Rubinho não é Corintiano?

PAI: Puta que pariu moleque! É, caralho!

FILHO: Vixe pai!!! O Rubinho é corintiano e o melhor piloto Brasileiro da atualidade, o Felipe Massa, é são paulino. Vamos falar de futebol mesmo vai.

PAI: Calma lá!!! Mas o Senna era corintiano filhão!!

FILHO: Eu sei pai. Já me falaram isso. E me contaram que como corintiano ele não agüentou. Em 93 viu o São Paulo conquistar o Bi Mundial e o Palmeiras sair da fila em cima do Corinthians, aí percebeu que não adiantava torcer pra esse time e enfiou o carro no muro.

PAI: (APENAS SUSPIRA)

FILHO: Calma paizinho. Vamos passear, me leva no estádio do Corinthians.

PAI: (chorando) Não temos estádio porra! Temos uma chácara que apelidamos de fazendinha e que é menor do que qualquer ginásio da NBA.

FILHO: (puto da vida) Chega pai! Assim não dá. Não temos estádio, não temos time, nosso título mais comemorado é um paulistão roubado, o nosso quarto título brasileiro foi mais roubado ainda, somos o único clube grande da capital paulista que não tem Libertadores, a nossa torcida é a segunda do país e de nada adiantou, torcida do São Caetano é mil vezes
menor e já viu o time numa final de Libertadores, nosso título mundial é uma fraude, o maior ídolo da nossa torcida no século XXI é argentino e nós estamos na segunda divisão, e você ainda quer que eu seja Corintiano. Você é um fanfarrão pai!!!!!

PAI: ( um minuto de silêncio)

FILHO: Posso fazer só mais uma pergunta pai?

PAI: Pode filho!!! (enquanto seca as lágrimas)

FILHO: Pra que time torce aquele filho da puta do presidente Lula?

PAI: Corinthians meu Deus!!!!! Corinthians!!!!

FILHO: Mãe pode ficar tranquila, se o pai sabe de tudo isso e ainda torce pro Corinthians é porque ele gosta de ser enganado e nem desconfia que eu sou filho do vizinho...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quem escreveu isto?

É estranho o processo de criação. Você está num dia daqueles em que nada que se faça satisfaz a inquietação. Mais ou menos como quando se sai de casa e se tem a impressão de que esqueceu algo. Não há comida, bebida ou diversão que aplaque a sensação. De repente aparece uma caneta e um papel e os rabiscos começam a tomar forma, palavras soltas que se unem tomando algum significado para quem escreve. Pronto criou-se um poema, um texto, uma música, etc. A coisa vai saindo espontaneamente, sem fazer força. Aquele incômodo vai embora junto com a angústia que gerava o tema em questão.

Nos momentos de inpiração as idéias surgem aos borbotões. Temos que tomar cuidado para não perder as idéias que vão surgindo nem o foco dos pensamentos. Depois de algum tempo ao analisar o que foi produzido, parece que estamos olhando uma criação alheia(Vitor Ramil escreveu algo do tipo "Olho nas mãos as veias/Com estranheza as contemplo/Como se fossem alheias").

Inspiração é a gota que transborda o copo da criação, libertando a torrente que brota do peito. Entramos numa espécie de transe criativo até que a última gota caia e possamos contemplar o resultado. Isso me lembra também uma exposição de algumas obras de Miró que vieram com alguns filmes que mostravam ele trabalhando. Fiquei vidrado nos filmes tentando imaginar o que ele estava pensando quando botou o pincel naquela determinada posição, nem mais para cima nem mais para baixo, por que justo ali? Por que aquela cor? O que será que ele via ao ver o resultado do trabalho no outro dia? Como ele percebia a própria criação?

Bom, eu admito, já estou na área do intangível, mas ao menos serve como exercício de curiosidade e questionamento a respeito do processo criativo. E por falar em processo criativo, esses questionamentos me apareceram desta vez depois de escrever um poeminha de físico:


Frio, amante que abandona os olhos

Que ao vento lacrimejam,

Não a falta mas a presença

Do ar que corta a pele

Faz companhia como o mate, impele

Para a frente em busca de lá.



Mas mesmo lá não estás

Está somente o outro frio

Ele corta, mas agora o peito.

A seiva do mate já não esquenta,

Não vai onde o frio queima,

Onde os olhos lacrimejam,

Não a presença mas a falta tua.

sábado, 21 de junho de 2008

Com certeza a melancolia é um grande combustível para a criação, mas de certa forma algumas vezes alguém já bateu na sua tecla, já tirou a palavra de sua boca. Mais ou menos o que acontece agora comigo, Bob Dylan já fez o serviço e Vitor Ramil o completou com maestria em sua versão em Português.


SÓ VOCÊ MANDA EM VOCÊ
(YOU’RE A BIG GIRL NOW)

Bob Dylan
Versão: Vitor Ramil


Um papo breve e tão sutil
Depois de tudo, me confundiu
Eu tô de novo na chuva, oh!
Você em terra firme
Sempre certa do que dizer
Pois só você manda em você

Pássaro tão só no fio de luz
Canta uma canção que me seduz
Eu me pareço com ele, oh!
Cantando só pra você
Que nem ao menos pode me ouvir
Eu canto pra me consumir

O tempo é uma nave que corre demais
Mas reconheço o que deixamos pra trás
Eu posso mudar, eu juro, oh!
Mas que poder você tem!
Posso mudar pra valer
É só você também querer

O amor é simples, fácil dizer
Você sempre soube disso, acabo de aprender
Também sei onde te encontro, oh!
Talvez no quarto de alguém
Mas não vai me custar entender
Pois só você manda em você

Noite escura, raios no ar
Qual o sentido de tanto andar
Eu tô vagando na chuva, oh!
A dor vagando em mim
Como um tiro no coração
Desde o começo dessa canção

Que fossa hein amigo! Bom, faz parte da vida, ganhar, perder, amar, esquecer. Be happy u all. Vou curtir a minha fossa cantando. Um dia desses eu volto com um papo mais ao meu estilo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Remexendo no Baú

Recentemente resolvi mexer no meu baú musical e desenterrar algumas coisas dele. Mas não qualquer baú, foi aquele douradinho, onde só as pérolas mais raras merecem ficar. Dessa vez saquei de lá o segundo disco do Vitor Ramil chamado “A Paixão de V Segundo Ele Próprio”. Muitas das coisas de lá fizeram e ainda fazem parte da construção do meu jeito de ser. Muitas das frases de lá me serviram em momentos de reflexão e hoje estão incorporados de tal forma a minha personalidade que posso dizer que esse é um dos discos da minha vida.

O disco inteiro é uma grande homenagem à liberdade de criação, com experimentos e viagens que até hoje eu não sei como que alguém topou bancar a impressão. As várias “vinhetas” de alguns segundos repletas de significados que só os mais tenazes fãs conseguem decifrar são um bom exemplo. Boto em lugar especial as músicas Clarisser e Sim e Fim. Com algumas frases que nos fazem repensar uma série de coisas.

Clarisser/É sempre cultivar/O saber na solidão/Pra poder manter acesa/A vida serena/Dentro de um silêncio transparente/Que ajude a compreender/O que acontece além/Das esquinas, das verdades/E das guerras ... Clarisser/É oãn es raserper/A sarger arap rairc/Rariver sadot sa sesarf/Sodot so samenof/Rirbocsed as seroc sod samora/Que desprendem das canções/E se soltam pelo ar/Em matizes, ocra-siri/Tons profundos/Que vão pousar na terra.

A primeira estrofe acima parece uma descrição do meu próprio jeito de ser, pensativo e silencioso, sempre refletindo sobre algo. A segunda é o resultado da coragem de criar e cantar versos ao contrário, usando o que o próprio verso diz sobre não se represar a regras para criar, sobre revirar as frases e todos os fonemas. As cores e os aromas das canções só podem ser percebidas por aqueles que verdadeiramente buscam encontrar sentido nas coisas, fazendo com que tudo a sua volta faça parte de um grande e significativo quadro.

Em “Sim e Fim” cada verso fala sobre sustentar a sua personalidade, de fazer o que se gosta e o que se acredita, não importando se os outros vão gostar ou não. Poderia colocar aqui cada verso e analisa-los, pois todos são extremamente significativos. Entretanto vou ressaltar um: A arte me ensinou a ter/ A minha voz no meio de outras vozes/Vermelho em verde claro/Cantar pra sempre e ser feliz. Simplesmente genial. Ter a minha voz como uma entre tantas, respeitando a vontade e a individualidade, sem deixar de fazer parte do grupo; bem como ter a minha própria voz apesar de tantas outras. Equilibrar a vida em sociedade com a necessidade de poder exercer a sua individualidade. E porque a arte ensinou? Porque a arte tem o poder de nos fazer olhar para dentro, de fazer que possamos nos compreender e a partir disso compreender os outros. Dessa forma não veremos a vida passar sendo apenas mais um que passou pelo mundo sem tentar fazer dele um lugar melhor.

Na música Satolep ele apresenta o seu universo particular, mostrando o ambiente em que foi criado, com as peculiaridades de sua vida e família (nada mais caseiro do que uma avó fazendo uma simpatia, ou um comentário com o pai sobre o tempo). Talvez ali encontremos um pouco da razão que o tornou tão liberto na prática criativa:

Sinto hoje em Satolep/O que há muito não sentia/O limiar da verdade/Roçando na face nua/As coisas não têm segredo/No corredor dessa nossa casa/Onde eu fico só com minha voz/A Dalva e o Kleber na sala/Tomando o mate das sete/A vó vem vindo da copa/Trazendo queijo em pedaços/Eu liberto nas palavras/Transmuto a minha vida em versos/Da maneira que eu bem quiser/Depois de tanto tempo de estudo/Venho pra cá em busca de mim.

Fascinante, depois de tanto tempo de estudo venho pra cá em busca de mim. Feliz daquele que tem na sua família como um esteio, um lugar para voltar e se reencontrar. Um lugar onde as experiências da vida dão lugar àquela criança que às vezes fica encarcerada dentro de nós pedindo para sair. Onde possamos achar muitos dos motivos que temos para ser do jeito que somos e repensar tudo que se passa ao redor.

Algum dia volto a escrever sobre esse disco fantástico, comtemplando o que ainda não comentei. E falta muita coisa. Para entrar em contato com a obra acessem www.vitorramil.com.br

domingo, 1 de junho de 2008

I Do Believe (ou Eu Também Quero)

Tardinha de sexta-feira fria, invernal, em Porto Alegre, é um convite a não sair de casa.Apesar do cenário pouco convidativo lá fui eu para o recital dos alunos da escola de música onde estudo. Entre as apresentações da noite uma me chamou atenção. Um senhor de setenta e poucos anos anunciou que cantaria um tango de Gardel.

Dizem as técnicas de canto que durante a apresentação o artista não deve olhar diretamente para a platéia para não perder a concentração. Percebi que ele seguia este conselho a risca a não ser por alguns momentos da música (La noche que me quieras/Desde el azul del cielo/Las estrellas celosas/Nos mirarán pasar/Y um rayo misterioso/Hará nido em tu pelo/Luciérnaga curiosa que vera/Que eres mi consuelo). Nas partes em que na letra se fazia declarações de amos ele fixava o olhar em uma pessoa na segunda fila, sua igualmente idosa esposa. Então a mudança em seu semblante e a doçura em seu olhar se tornavam evidentes. Seus traços suavizados mostravam todo o sentimento figurado na música. Aquela cara de bobo que involuntariamente apresentamos quando na presença da pessoa amada. Naqueles momentos, lembrei, saudoso, do olhar que meu pai costumava lançar para a minha mãe ao chegar em casa após o trabalho, depois de quase 30 anos de casamento. Um quadro inspirador e comovente nesta época de tanta inconstância. Época de relacionamentos confusos e fugazes. De desequilíbrios e excessos, desconfiança e incompreensão.

Talvez aí esteja o motivo de, durante minha vida, eu ter sempre procurado relacionamentos estáveis. Me acostumei desde sempre a ver um relacionamento onde as coisas fluíam bem, me fazendo buscar algo semelhante para mim. Essa sempre foi a forma com que idealizei os relacionamentos, a ponto de eu não admitir relacionamentos fugazes.

Para todas as pessoas com quem me relaciono, me mostro do jeito que sou, na esperança de receber igual tratamento, ficando as coisas bem claras desde o início. Desse modo, sem joguetes, avalio a situação e percebo se o relacionamento pode levar a algo duradouro ou não. Se as diferenças forem impeditivas a um relacionamento estável, tento estabelecer uma amizade, já que alguma afinidade deve existir. Isso significa, sim, que prefiro ficar sozinho e aberto a novas possibilidades do que arrastar uma brincadeira somente para não estar sozinho. Me conheço o suficiente para saber que não conseguiria ficar aberto a novos relacionamentos enquanto estivesse com alguém, mesmo que não fosse algo sério.

Exemplificando, em uma conversa com uma colega eu ouvi: “minha mãe acha que eu não transo com ninguém porque eu não tenho namorado” (ou algo que o valha). Não julgo ou condeno ninguém por pensar ou ser assim, mas é algo que não me serve. Sempre que começo a sair com alguém, tento pensar que ela virá a ser minha namorada. No processo de conhecimento mútuo essa impressão se modifica, intensificando-se ou esmorecendo. Neste último caso espero que reste uma relação sadia de amizade, deixando lugar a uma nova tentativa, com outra pessoa.

Pois é, eu reconheço, parece bem antiquado, talvez tão antiquado quanto escrever um poema, uma carta, mandar flores, se relacionar com uma pessoa por vez ou cantar um tango de Gardel para alguém que nos inspire. Mas esse sou eu. Quase sempre solitário e pensativo, mas sempre franco e sincero. Procurando a mãe dos meus filhos, sem pressa, do meu jeito, talvez errado para uns (que acreditam que quanto maior a quantidade de relacionamentos, maior a probabilidade de achar um que dure), mas compreensível e lógico para mim mesmo.

Espero um dia cantar com a tal cara de bobo para alguém, provavelmente não um tango, mas alguma delicada melodia sul-americana. Disposto sempre a dar o imenso carinho que recebi dos meus pais, em uma família equilibrada e harmoniosa como foi a minha. O que me fez ser um monógamo convicto e romântico incurável.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Religião e Desequilíbrio Social

Sigo colhendo os frutos de ter assistido o filme Le Notti di Cabiria. O filme se desenrola em meados dos anos 50 na Itália. O país então destruído pela guerra tenta se reerguer sobre novas bases. Em uma cena marcante Cabiria se perde após ter “trabalhado” à noite e acaba chegando próximo às cavernas. Nestas, meros buracos no chão rochoso, vivem pessoas sem condições de viver em outro lugar. Lá ela encontra um homem misterioso que chega de carro e anda com uma mochila imensa presa às costas. Logo após ela descobre que ele está levando comida aos pobres.

A questão principal é que solidariedade é uma coisa totalmente desconhecida para ela, que levou uma vida sofrida e solitária. Tudo que ela recebeu das pessoas que conheceu foi o pior possível, desamparo, desafeto e exploração. Ela fica encantada pois talvez tenha sido a primeira demonstração de bondade desinteressada que ela conheceu na vida.

Adiante na história ocorre uma procissão onde todos os seus conhecidos vão fazer pedidos à “Maddona” (não sei precisar exatamente qual delas). Nestas cenas ela toma contato com a devoção do povo. As cenas são muito focadas nos rostos das pessoas que demonstram sua inabalável fé nos milagres da Santa.

A leitura que faço destes fatos é de que o papel das igrejas tem sido puramente explorar a devoção das pessoas que se acotovelam nas procissões em busca de graças. Promover a justiça social tem ficado em segundo plano. As congregações, de fato, têm seus missionários espalhados pelo mundo, tentando aliviar o sofrimento de alguns, reequilibrando a balança social. Entretanto este papel cabe a alguns poucos abnegados que direcionam a sua vida à caridade (e são confortavelmente mantidos afastados das administrações). Muitas das tarefas sociais atribuídas às igrejas acabam sendo feitas por pessoas que se dispõem a se doar mesmo não tendo ligações religiosas. Estas pessoas compõem uma importante parte da reserva moral da nossa sociedade, chegando a extremos simplesmente para ajudar o próximo sem espera de reconhecimento ou láureas.

Penso eu que corroborando a minha teoria, no seguimento do filme ela encontra um irmão maltrapilho que pede esmola, a qual ela não tem para dar. Ele lhe fala de fé, esperança e de pedir ajuda aos santos que tudo ficará bem. Quando as coisas parecem melhorar ela tenta se confessar com o irmão e dizer como foram bons os seus conselhos e descobre que ele não é um irmão ordenado. Acho que a intenção de Fellini ao colocar essas seqüências foi mostrar que aqueles que, de fato, agem dentro das igrejas, são justamente aqueles que se despem de toda arrogância intelectual e partem para o trabalho pesado, sendo eles próprios desamparados pela instituição.

Não estou aqui discutindo o papel das igrejas, mas sim a sua hierarquia, forma de administração e cumprimento de seus objetivos. No filme se trata da igreja católica em seu reduto mais importante - visto que o filme se passa em Roma – mas acredito que a mesma análise possa ser feita sobre muitas das seitas e religiões que se denominam cristãs. Curiosamente tudo o que Cristo pregou sempre foi a solidariedade.

Não estou dizendo que todos deveriam despir-se completamente e doar tudo aos pobres. Mas se tivéssemos mais pessoas, religiosas ou não, dispostas a fazer com que a balança social não ficasse tão desequilibrada, talvez muitas das suas preocupações com, por exemplo, segurança, fossem resolvidas. A questão em vez de solidariedade, passaria a ser de interesse pessoal. Se as pessoas que tanto reclamam de falta de segurança começassem a se dar conta de que sendo solidárias estariam se beneficiando, talvez conseguíssemos construir uma sociedade mais justa. Seria o caso legítimo de escrever certo por linhas tortas, mas ao menos funcionaria.

Eu sei que tudo isso é uma utopia, mas não custa sonhar, quem sabe um pouquinho deste sonho se realize. Basta que cada um faça a sua parte.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sobre-viver

Le Notti di Cabiria foi o escolhido da noite do meu minguado acervo de filmes antigos. Dirigido por Frederico Fellini em 1957 com uma atuação simplesmente espetacular e irretocável de Giulietta Masina no papel principal (acho que muitas atrizes deveriam assisti-la e aprender um pouco). Creio nunca ter visto uma atuação como esta antes. Cabiria é o pseudônimo usado pela personagem principal na sua função diária de prostituta. O filme conta as desventuras de uma mulher simples que foi obrigada a se prostituir para sobreviver. Desta vez me prenderei a somente algumas das coisas que me levaram a refletir. Algumas outras já estão anotadas para outros posts.


Estava eu orkuteando por aí em comunidades que me pareceram promissoras quando encontrei um relato:

“Yoñlu passou os primeiros anos da adolescência fechado em seu quarto, em um apartamento da Zona Norte de Porto Alegre. Diante do computador, fez, ao redor do mundo, os amigos que não tinha no cotidiano. O garoto quieto, filho de uma família de classe média, tirou a própria vida numa tarde do inverno de 2006. Seria apenas uma história triste, não tivesse Yoñlu deixado, além da carta de despedida, uma vasta e intrigante produção artística. Complexa demais para um garoto de 16 anos. Mas o mundo doía em Yoñlu, como mostram as letras de muitas de suas músicas. Sua questão não era morrer, mas fazer a dor parar.”

O dia em que li isso reservei para o momento adequado: agora. Quer parecer-me nos últimos tempos que as pessoas endeusam certas atitudes extremas como por exemplo o suicídio. Já ouvi por aí que a pessoa tem que ser muito corajosa para se suicidar; o que eu acho um contra-senso total. Corajoso é aquele que vê a dificuldade e a enfrenta, não aquele que foge do modo mais covarde possível; é quem vê o mundo todo torto e vai lá dar o seu empurrão para tentar devolvê-lo ao rumo certo; é quem não tenta ver o mundo por frestas, filtrando o que interessa; é quem tem peito para olhar para dentro e vê ali um pouco dos problemas do mundo, se inquieta e age.

Tenho cada vez mais reservas em aceitar as produções de pessoas autodestrutivas. Artistas em geral com atitudes e hábitos que levam a sua própria ruína, acabam fomentando comportamentos sociopáticos que levam milhares de pessoas a terem uma conduta igualmente reprovável. Falta um pouco de noção de que o talento que têm poderia servir a causas, digamos, mais nobres do que a simples incitação de comportamentos escusos.

No filme temos contato com a vida de uma pessoa que sofreu demais na vida Acompanhamos um pouco de seus momentos mais difíceis, de falta de horizontes, de desilusões, de vontade de desistir de tudo e morrer. Ao final deparamos com um sorriso límpido e verdadeiro de quem aprendeu que na vida nos sofremos, mas nos recuperamos, caímos mas nos erguemos, desde que tenhamos coragem seguir em frente. É uma questão de não perder o sorriso que tínhamos quando éramos jovens e cheios de sonhos (como Giulietta magistralmente nos mostra ao longo do filme); de não perder a pureza de olhar para o mundo e querer ver a beleza que há nele, apesar de tudo que vemos; enfim de querer viver e perceber que viver vale a pena, por mais que se sofra.

Aos interessados em conhecer o filme, mande um e-mail (lvtarrago@gmail.com.br) ou um comentário que eu dou um jeito de mandar o filme pois eu acho que não é tão fácil de achá-lo por aí.

domingo, 18 de maio de 2008

Andanças da Vida


Fim de semana cheio de idéias, entre uma pilha de provas por corrigir e outra, as músicas vão passando. Final de trimestre é sempre assim, muitas idéias rolando pelas músicas que vão passando e um tempo escasso para refletir e escrever. Me pego às vezes com as provas à frente totalmente inerte, prestando atenção na música. Uma delas em especial me parou desta feita. Obriguei-me a escrever ou as mãos não parariam de tremer (tudo bem eu sou exagerado mesmo). A música em questão foi a vencedora da primeira Califórnia da Canção Nativa em 1971 e revela a profundidade e amplidão das idéias que a música nativista aborda. Quase sempre com sua linguagem característica, a sabedoria do homem simples aparece de modo contundente. Nesse caso específico a linguagem típica aqui do sul do país dá lugar a uma concatenação de metáforas que podem ser interpretada pelos nativos de qualquer lugar. Esta música me tocou mais desta vez (há muito tempo que não a ouvia) pois ela reflete muito bem o momento da vida por que passo agora. Cansei de ser vento e passar solitário pela vida e resolvi mudar para o lado dos que descansam na barranca do rio . Só falta achar alguém para sentar e conversar tranqüilamente ao meu lado e fazer a vida desabrochar com raízes e frutos.


Reflexão

Colmar P. Duarte


Para fugir a tristeza

Por buscar esquecimento,

Desejei ser como o vento

Que vai passando sozinho,

Sem repisar um caminho

Sem conhecer paradeiro

Quis ser nuvem ao pampeiro

Ser a estrela que fulgiu,

Quis ser as águas do rio

Fazendo inveja às areias

Em seu eterno viajar!

Um dia cansei de andar

E desejei novamente

Em vez de rio ser barranca,

Em vez de vento, moirão,

Em vez de nuvem, semente,

Em vez de estrela, ser chão!

Recém então aprendi

Que muita gente maldiz

Sua sorte - insatisfeita –

Por não saber que é feliz.

E nunca mais invejei

O destino das estrelas,

Que só enfeitam a noite

Porque o sol não pode vê-las;

As nuvens que submissas,

Vão onde o vento as levar

E o vento que passa triste

Porque não pode voltar!




sábado, 17 de maio de 2008

Sobre o Senso Comum

Uma colega professora de artes comentou comigo sobre uma situação de aula: alunos usando fones de ouvido enquanto desenham. Curiosa a respeito do que eles ouviam ela acabou tomando conhecimento do “créu”. Ela ficou um pouco chocada ao ficar sabendo que crianças de 5ª série estão expostas a um conteúdo que deveria ser impróprio para crianças dessa idade (e olha que ela não teve que assistir a deprimente cena da mulher melancia dançando o créu). Mas o que realmente a surpreendeu foi o fato de que quase todos estavam ouvindo o créu. E é aqui que começo a dissertar a respeito do fato.

Como eu já havia escrito no último post, o assunto que me chamou a atenção e que agora vasculho é o senso comum. Senso comum, penso eu, é a expressão usada para definir algo que se torna aceitável pelo simples fato de que muitas pessoas o fazem. É um comportamento de grupo no qual as pessoas agem ou pensam de acordo com a maioria, suprimindo sua individualidade. Muitas vezes o senso comum é algo óbvio, por exemplo: se você tomar banho de rio no inverno, ficará doente, então ninguém toma banho de rio no inverno. Continuemos com o rio: o Rio (Lago, como queiram) Guaíba é poluído, se você tomar banho nele poderá ficar doente. O senso comum diria: ninguém portanto tomará banho no dito rio. Pois aí começa a coisa, tem gente que toma banho no rio (por diversos motivos que agora não convém discutir). Começamos aí a perceber que o senso comum não é uma coisa indiferente à estrutura social vigente. Para o favelado o rio é a sua praia, suja ou não. Para o praticante de esportes aquáticos ele é a quadra de esportes. Cada um com seus motivos, pode violar o senso comum como bem entender.

Pessoas são discriminadas e/ou criticadas por terem posturas que não são aceitas pelas maiorias. Cada pessoa que preza sua individualidade tem um grau de desajuste com relação ao senso comum. E cada diferencinha que demonstramos em relação ao que é “normal” serve como motivo para pequenas discriminações diárias; como um aluno de ensino médio que gosta de música clássica e tem que ouvir piadinhas; ou aquele gaudério assumido que tem que conviver com gracinhas por demostrar seus gostos.

Citei apenas algumas coisas para ilustrar mas existe um número infindo de razões pela qual sofremos pequenas discriminações diárias, seja pela aparência ou pelas idéias.

O único modo de nos livrarmos de todo e qualquer tipo de “pegação de pé” dentro das nossas relações diárias é nos curvando à maioria. É aceitando o que nos é imposto pelas regras de convívio social e cultural de cada grupo de que participamos, suprimindo por vezes a nossa própria personalidade. Devemos cair no mesmismo da maioria e na mediocridade da unanimidade burra.

Num mundo onde as informações e modismos vêm e vão ficamos oprimidos por uma sensação de desajuste que às vezes nos deixa sem uma escolha diferente do isolamento.

Por sorte os desajustados existem aos montes por aí e ... como é bom o convívio com eles. Geralmente são pessoas que tem opiniões próprias sobre os mais diversos assuntos, resultado de desprendimento do senso comum, tempo de reflexão e personalidade bem cultivada. São pessoas ótimas para conversar, discordar, discutir e, no final de tudo, admirar pela coragem que têm de serem elas mesmas. Com isso os horizontes se alargam e a vida ganha novas dimensões.

Depois de tanto ir e vir pela vida acabei descobrindo que eu e o senso comum somos inimigos mortais e que eu não conseguiria conviver com uma pessoa que almeja as coisas banais da vida sem dar valor ao que temos de mais caro que são os momentos de convívio, pacífico ou não, mas intenso, sempre intenso. Momentos em que nos sentimos vivos pelo fato de podermos nos expressar sem medo de julgamentos, exercendo a nossa individualidade em cada segundo. Sem isso a vida me pareceria algo como um passeio a algum lugar distante com roteiro pré-programado, sem pôr o pé para fora do ônibus.

Obviamente esse post merece por encerramento:

“Enquanto você se esforça pra ser

Um sujeito normal e fazer tudo igual

Eu do meu lado aprendendo a ser louco

Maluco total, na loucura real”

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Manipulação da Informação

Dia frio, feriado e eu aqui pensando onde foi parar o pensamento livre e crítico. O que percebo é que ele está encarcerado numa espécie de gueto e tomado de empáfia e afetação. Quem o pôs lá? Ou sendo mais imediatista, não querendo remexer no baú da história, o que o mantém por lá? A massificação da informação é um das grandes características do nosso tempo. Mas o que é feito com essa informação toda e como ela afeta e dirige a vida das pessoas? Se a informação está disponível para muita gente então porque as pessoas preferem se abster de analisá-la do seu modo e tirar suas próprias conclusões?

Certamente as respostas a essas perguntas todas fogem ao escopo desse post, mas algumas pistas podemos ter. Informar deveria ser apenas contar os fatos, os bons jornalistas se limitam a fazer isso. Entretanto o que percebemos é uma maciça carga de ideologia sendo esparramada em cada linha que se vê ou ouve. Um exemplo para ilustrar é o julgamento em praça pública que foi feito com os pais que tiveram a sua filha morta por uma queda, o famoso “Caso Isabela”, que tem ocupado horas nos noticiários em todos os canais, horários e meios de informação. Um dos primeiros preceitos do direito é que o que deve ser provado é a culpa. Não estou defendendo os pais, só estou defendendo o direito que eles têm de serem julgados no tribunal, com isenção, assim que todos os fatos forem apurados. O mais engraçado (not funny) de tudo é ver os jornalistas que se prestam a fazer essas coberturas lamentáveis, reclamando por não conseguirem se aproximar do prédio por haver...muitos jornalistas. Quando esse tipo de crítica que estou fazendo é dita, estes jornalistas se defendem com algo do tipo: “nós estamos dando o que o povo quer!”.

O que o povo quer!?

E quem sabe o que o povo quer? Talvez eles saibam o que o povo quer porque eles ajudam a filtrar informações, de modo que todos se acostumem a querer o mesmo tipo de coisa (bah!, até já sei o tema do próximo post). As informações são enviadas sob uma máscara de senso comum que escapa, às vezes, às mentes mais afiadas. Antes mesmo de as pessoas se perguntarem, o porquê de estarem cobrindo essa história, elas são levadas a darem o seu veredito (aqui o word quer que eu escreva veredicto!). Tem tanto crime sendo cometido por aí! Roubalheira política, guerras de traficantes, crianças jogadas ao léu pela rua, trabalho escravo, etc. Tanta coisa mais angustiante que um casal de classe média cuja filha caiu da janela. Tanta coisa com impacto social mais importante e se gasta tanto tempo com uma insignificância.

As tentativas que vejo de abrir os olhos do povo para alguns problemas acabam esbarrando em direcionamentos equivocados de intenções. Lembro que no começo dos anos 80 Eduardo Dusek (que hoje se assina Dussek) lançou uma música que virou um grande sucesso. Puxa vida! Uma música com conteúdo social relevante sendo veiculada abertamente. Ele começava dizendo que tinha criança querendo levar vida de cachorro. Ele escolheu o rock provavelmente por ser a onda do momento, de fácil aceitação e distribuição. Um rock escrachado que tocava o dedo na ferida. Mas se perguntarem a maioria das pessoas o que se lembram verão que o que sobrou foi: “lembra que tinha uma musiquinha engraçadinha... troque seu cachorro por uma criança pobre hahahhah”. Como se isso fosse engraçado. Não vou me aprofundar no tema, não desejo o extermínio dos caninos domésticos, mas que tem bichano por aí levando vida melhor que vida de gente, ah! Isso tem! Na minha opinião é uma inversão de situação em relação ao que o homem pensa de si próprio como sendo mais importante que o resto dos animais. Mas isso já é outro papo.

Assim vamos seguindo vendo as tentativas de manipular as nossas mentes e corpos. Infelizmente percebo que as tentativas de manipulação funcionam com boa parte da população. Parece um beco sem saída, mas sigo remando (gracias Jorge Drexler).

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Máscaras

Estava eu numa das minhas tradicionais voltas pelo centro da minha querida Porto Alegre e fui até uma das minhas paradas prediletas: um dos terraços da Casa de Cultura Mario Quintana. Lá de cima costumo observar o que costumo chamar de “baile de máscaras”. Sim, todos nós as temos. Fico observando lá de cima as pessoas que passam, tentando imaginar quais as máscaras que elas tiram ao chegar em casa. Todos nós buscamos através de roupas, atitudes e comportamentos ressaltar algumas coisas e esconder outras. Às vezes por trás de um semblante agressivo encontramos pessoas sensíveis e delicadas, por trás de um visual delicado, uma pessoa forte e determinada. Todos temos uma parte reprimida, consciente ou inconscientemente, que fica escondida de tudo e todos.

Mas por que essa necessidade de se esconder?

Talvez seja porque tenhamos medo de que alguém possa utilizar as nossas fragilidades em seu proveito. Talvez porque nos assumirmos do jeito que somos nos leve a realizarmos uma autocrítica muito severa. Talvez porque assumindo nossas posturas abertamente possamos ser julgados e estereotipados pela sociedade. Talvez porque assumindo alguns sentimentos possamos estar nos dirigindo a um caminho que nos leve ao sofrimento. Talvez porque quando demonstramos o que sentimos, ficamos à mercê de sermos aceitos, levando a um caminho onde não controlamos o rumo. Talvez porque o medo da rejeição e do sofrimento seja maior do que a força de dar o primeiro passo. Talvez porque o senso comum esteja forte demais na nossa vida.

Muitos outros “talvezes” poderiam ser colocados, muitos deles foram solucionados por uns, mas não por outros. A nossa vida será pautada por diversos deles, alguns facilmente solucionáveis, outros nem tanto. Mas solucionáveis ou não, acho extremamente sadio que as pessoas com discernimento para tanto pensem a respeito dessas questões, e que, finalmente, achem algumas respostas.

Com um bocado de autoconhecimento e autocrítica podemos chegar a um estado de paz interior que nos permita, então, nos ocuparmos de outras questões fundamentais da vida em sociedade, tais como: as desigualdades sociais, os problemas ambientais, problemas político-econômicos, etc.

Então é arrumar a casa por dentro, deixar tudo em ordem, ou ao menos encaminhar a arrumação do que estiver bagunçado, para poder sair de casa sem que as nossas máscaras nos atrapalhem no rumo das novas experiências da vida.

Be happy ... :)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Estava eu pensando em encontros e desencontros amorosos e assuntos afins numa sonolenta tarde porto alegrense quando lembrei-me de uma música do RUSH. Ia escrever sobre o assunto mas a música é mais que suficiente para expressar o que eu desejava escrever, me poupando o trabalho. Vai aí mais uma obra de altíssima qualidade desta grande banda que, qo que parece, se apresentará em Porto Alegre em agosto. Nos vemos lá...

Entre Nous (RUSH)

We are secrets to each other
Each one's life a novel
No-one else has read.
Even joined in bonds of love,
We're linked to one another
By such slender threads.

We are planets to each other,
Drifting in our orbits
To a brief eclipse.
Each of us a world apart,
Alone and yet together,
Like two passing ships.

Just between us,
I think it's time for us to recognize
The differences we sometimes fear to show.
Just between us,
I think it's time for us to realize
The spaces in between
Leave room for you and I to grow.

We are strangers to each other,
Full of sliding panels,
An illusion show.
Acting well-rehearsed routines
Or playing from the heart?
It's hard for one to know.

We are islands to each other,
Building hopeful bridges
On a troubled sea.
Some are burned or swept away,
Some we would not choose,
But we're not always free.

P.S.: não estranhem o nome da música, a banda é canadense, ou seja, tem um pezinho na França.

segunda-feira, 24 de março de 2008

À luz da lua


Um pouco mais de poesia de físico ...


Frente ao mar a vejo subir

Lenta e branca

Na luz que insiste em não terminar o dia.

A lua entra e ocupa seu lugar

Mostrando que agora reinará:

Para a glória dos amantes que nem a notam

Não por despeito, mas por mero efeito da presença mútua

Que faz com que ela seja só mais uma parte da natureza que os reverencia;

Ou para a nostalgia dos que, longe de seu esteio, buscam nela lembranças

Da pessoa que as ocupa a mente,

Mas não a vista, que corre em volta mas não avista aquela

Que quando à vista deixa o desejo de que ninguém a vista

No esplendor do corpo nu sob a luz prateada;

Ou para sofrimento daqueles que ao olhar o espaço ao seu lado

Vêem a rocha agora vazia, outrora formosa,

Sem ter a imagem e a voz que os fizera esquecer que a lua existia.

Que agora os faz perceber que a harmonia que havia

Ao ter do lado quem queria, foi uma utopia, que deixou saudades

De um momento a mais que fosse, só mais um,

Só um último, um infindável último momento, que ainda buscam

Ao retornar ao local onde esqueceram da lua e a vida se abria em sonhos e delírios.

Ou para o deleitoso sofrimento do poeta que, inspirado pela lua,

Chega a ignorá-la em seus devaneios, escrevendo seus anseios,

Suas vidas, seus pe-

Da-

Ços.

Espalhando seus traços pela areia, engolidos pelo mar.

Vai mesclando seus amores, saudades e sofrimento em seu doce lamento

Da vida que vai passando, que vai no peito formando sentimentos e laços

Antes menosprezados e agora incorporados a sua proesia.

Ops! Cadê a lua?

Se foi como nas noites de olhares intensos de olhos fechados,

Mostrando ao solitário poeta que escrever também a faz sumir,

Que, mesmo só,

Existe um prazer

Somente em perceber

Que a vida não passou em branco.

Que para escrever

É preciso viver,

É preciso amar,

É preciso não ver a lua sumir num

Beijo lunar.



Agradeço ao Vitor Ramil o empréstimo do proesiar.

domingo, 16 de março de 2008

EU VOU SER TIO DE NOVOOOOOOO. EU TOU MUITO FELIIIIIIIZZZZZZZZZ!!!!!!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Liberdade é melhor que pão?

Sempre gostei de fazer uma reflexão com meus alunos a partir de uma frase de Nelson Rodrigues, que dizia: “Liberdade é melhor que pão”. A partir da frase começava a refletir sobre as maravilhas do pensamento livre, dando um gancho nas histórias entre ciência e inquisição, culminando com o uso da liberdade com responsabilidade, aplicável diretamente às suas vidas.

É muito fácil falar a respeito desses assuntos, confortavelmente sentado numa poltrona assistindo tudo acontecer. Pois estava eu em tal poltrona quando assisti em um noticiário a uma reportagem sobre a atual situação da Rússia. A concentração de renda, após a queda do muro chega a níveis alarmantes. Há mais de 20 milhões de russos abaixo da linha de pobreza. Um homem que revirava um lixão em busca de comida ao ser entrevistado falou a frase que me lançou em meditação no sábado à noite: “Eu preferia que voltasse o comunismo; não tínhamos liberdade, mas ninguém morria de fome”. Tomei o tapa e fui-me ao meu passatempo predileto, me recolhi para pensar.

Como posso analisar decentemente a frase do Nelson Rodrigues sem saber o que é estar sem liberdade, sem saber o que é estar sem comida? Será que ele próprio soube o que é isso? É claro que se pode argumentar que não precisamos passar por todas as experiências da vida para falar a respeito de muitas delas. Entretanto sobre algumas coisas não creio que seja legítimo comentar sem que se tenha de fato experimentado. Fome é uma delas. O que será um homem capaz de fazer quando não tem o que comer e a esperança de obter algo para o seu sustento se esvai? Não falo de passar fome numa dieta, eu digo fome a ponto de correr risco de morrer e não ter onde buscar comida. Talvez eu nunca sinta na pele (sinceramente, torço para isso) o que é sentir fome, então tenho que buscar na história alguém que tenha sentido e relatado.

Não sou propriamente um expert no assunto mas pelo que lembro um jovem príncipe indiano resolveu peregrinar de mãos vazias, indo ao limiar da vida pela fome, sofrendo uma transformação e iluminação. Buda começou a ensinar após uma experiência extrema de fome. Jesus Cristo teria passado 40 dias do deserto sofrendo tentações antes de começar sua peregrinação e pregação. Uma de suas tentações foi a de usar seus poderes para afastar a fome intensa que sofria. Temos ai dois bons exemplos de coisas que aconteceram com personagens iluminados da história. Mas e o homem comum? Aquele cuja vida desgraçada não deu a oportunidade de moldar o caráter, de dar força ao espírito?

Talvez agora eu tenha chegado a minha resposta. O homem vive sem liberdade, mas sem comida, não. Ele arrisca sua vida e sua liberdade por comida. O homem só mostra a sua real face e o quanto tem firmes seus valores quando sua vida é levada a extremos. Quando a vida é posta em risco entra em ação o homem em sua forma mais crua, sem máscaras. Nesse estado ele é capaz de tudo pelo simples instinto de sobrevivência (lembram-se queda do avião nos Andes que provocou canibalismo por sobrevivência?).

Creio que isso tudo sirva para invalidar a frase que dá título a esse post, o que não tira, ainda assim, a utilidade dela como reflexão para a vida cotidiana daqueles que tem condições de ler o que agora escrevo (desde que devidamente contextualizada). Ter liberdade e dar liberdade é uma coisa fundamental em todos os ramos das atividades e sentimentos humanos. O ser humano só pode se encontrar se tiver liberdade para viver e fazer o seu caminho. O que cada um faz com essa liberdade é o que nos faz diferir em muitas coisas. Sem ela não creio que haja desenvolvimento completo das nossas capacidades intelectuais, afetivas e espirituais. Mesmo sem ela pode haver vida mas num sentido muito mais restrito. O que me faria reescrever a frase: “Liberdade, com pão, é melhor”.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Adeus Teleco...

Hoje este blog está de luto pela morte do palhaço Teleco. Lembro vagamente de passagens de minha tenra infância. Ajudar a mãe carregando os prendedores para pendurar a roupa; jogar bola e arrancar as tampas dos dedos nas lajes da frente de casa; a bicicleta dobramatic Monark fiel companheira; o pai chegando de caminhão e a alegria que se espalhava pela casa; o tio tirando a barba numa vasilha de alumínio, usando barbeador com laminas Gillete; a polenta que a Dinda (minha vó) fazia, feita em fogão a lenha em panela de ferro; os circos que passavam pela cidade, um deles o Teatro Teleco.

Na verdade o Teatro Teleco não era um circo, era montado com folhas metálicas. Não trazia bichos, somente peças. Eram peças encenadas pela própria família do Teleco e podiam ser assistidas por todas as idades. Lembro-me de ir algumas vezes com minha família (pai, mãe e irmão). Isso devia ser lá pelo final dos anos 70. Não existiam shopping centers mas sair à noite não era perigoso (a menos que você fosse um militante de esquerda!). O público era composto basicamente por famílias que se reuniam para um programa diferente de ficar em casa assistindo a novela das 8 h (que na época começava lá pelas 8 h mesmo).

Claro que para as crianças aquilo era uma odisséia. Eu costumava dormir lá pelas 8 h e as idas ao Teleco demandavam que ficássemos acordados até mais tarde. Ainda posso sentir o cheiro das pipocas, churros e cachorros-quentes que ficavam na entrada e que sempre eram uma tentação aos passantes. Lá dentro as histórias arrancavam gargalhadas. Obviamente não lembro das histórias, mas lembro do clima do lugar. As cadeiras simples, a gente humilde e minha família reunida.

Às vezes ainda sinto que queria ser aquela criança gorduchinha e bochechuda que se encantava com todo aquele movimento e com as palhaçadas do Teleco. Vem uma sensação de desamparo, de solidão, daquela falta da mão forte do meu pai segurando a minha com ternura. Ternura que sinto ainda hoje ao lembrar dele. Ao relembrar daqueles momentos em que eu tinha a certeza de que nunca estaria triste, pois ele sempre estaria ali para me alegrar, bate uma saudade imensa e uma nostalgia inebriante...

Fica aqui este post em homenagem ao ator e escritor (sim, ele mesmo escrevia as suas peças) Antônio Adir Machado que alegrou as infâncias de muitos e aliviou pelo riso a vida adulta de tantos. Que a sua família possa continuar esse legado de vida que deixaste para nós que crescemos sendo teus fãs.

Vai ai uma palhinha de Teleco perdida no u-tube http://www.youtube.com/watch?v=44YorDNk-cU&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=DeIWrRy4eBU


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Convergências e divagações sobre sonhar

Tenho sido acometido ultimamente por seqüências de mensagens com conteúdo similar em diversos assuntos. Quando isso acontece, geralmente aparece um post neste blog... A bola da vez vem de 3 referências completamente distintas. Música, cinema e literatura. Talvez essas convergências tivessem passado pela minha vida o tempo todo e eu nunca houvesse parado para prestar atenção nelas.

A primeira das referências vem de uma música aqui do nosso estadinho pretensioso mas de riquíssima cultura e temas profundos:


“Procuro meu sonho de um jeito sereno

E firmo meu rumo sem medo de andar” (Érlon Péricles)


Sempre gostei do verso e seguidamente uso como mensagem pessoal no msn. Parece uma mensagem bastante clara de que quando paramos de sonhar, paramos de viver; que sonhar pra sempre sem dar o primeiro passo é o mesmo que não sonhar; finalmente, de que correr desesperadamente atrás do seu sonho pode fazer com que não se aprecie a viagem para chegar a concretizá-lo.


Assistindo ao filme “Juno” em um dos momentos culminantes da bem construída trama de acontecimentos, assistimos à deprimente cena do desmoronamento de um relacionamento que não foi baseado nem em respeito nem em sinceridade. Um homem que sonha mas nunca alcança embora tente, é um homem que ao menos aprende muita coisa pelo caminho. Mesmo que passe a vida tentando sem conseguir atingir seu objetivo maior, ele pode olhar para trás eu dizer “eu tentei” e isso já é uma boa parte da satisfação de realizar um sonho. O menosprezo pelos sonhos e objetivos dos outros é uma prática vil, que afasta as pessoas, que torna o convívio uma tortura e inviabiliza relações sinceras.


A terceira referência vem da Divina Comédia e fecha tudo o que foi escrito até agora. Dante é levado ao primeiro círculo do Inferno, onde estão as pessoas virtuosas que não foram batizadas, geralmente por terem vivido antes mesmo da existência do batismo. Essas pessoas estão no inferno no qual o castigo é verem seus sonhos jamais serem realizados. Bah!!! Isso é que é inferno, ser fadado ao fracasso eterno, começar as coisas sabendo que nunca vai dar certo. Imaginem, ir ao supermercado para comprar algo e não ter justamente o que estava na lista; sair para divertir-se na noite e todos os lugares fechados; desejar ouvir uma música ou ver um filme e não encontrar; querer achar alguém para amar e não encontrar; achar alguém a quem se ama e não poder desfrutar da sua compania. Como o próprio Dante diz, as pessoas que aqui estão sempre desejam uma outra morte que os alivie.

Por menor que seja o sonho, dediquem-se às coisas que gostam, doem-se no caminho e verão que a plenitude virá pelo simples fato de haverem tentado e assim poderão contemplar o caminho trilhado com a cabeça erguida, leve e sem remorsos, plenamente aptos a olhar para a frente.