Recentemente resolvi mexer no meu baú musical e desenterrar algumas coisas dele. Mas não qualquer baú, foi aquele douradinho, onde só as pérolas mais raras merecem ficar. Dessa vez saquei de lá o segundo disco do Vitor Ramil chamado “A Paixão de V Segundo Ele Próprio”. Muitas das coisas de lá fizeram e ainda fazem parte da construção do meu jeito de ser. Muitas das frases de lá me serviram em momentos de reflexão e hoje estão incorporados de tal forma a minha personalidade que posso dizer que esse é um dos discos da minha vida.
O disco inteiro é uma grande homenagem à liberdade de criação, com experimentos e viagens que até hoje eu não sei como que alguém topou bancar a impressão. As várias “vinhetas” de alguns segundos repletas de significados que só os mais tenazes fãs conseguem decifrar são um bom exemplo. Boto em lugar especial as músicas Clarisser e Sim e Fim. Com algumas frases que nos fazem repensar uma série de coisas.
Clarisser/É sempre cultivar/O saber na solidão/Pra poder manter acesa/A vida serena/Dentro de um silêncio transparente/Que ajude a compreender/O que acontece além/Das esquinas, das verdades/E das guerras ... Clarisser/É oãn es raserper/A sarger arap rairc/Rariver sadot sa sesarf/Sodot so samenof/Rirbocsed as seroc sod samora/Que desprendem das canções/E se soltam pelo ar/Em matizes, ocra-siri/Tons profundos/Que vão pousar na terra.
A primeira estrofe acima parece uma descrição do meu próprio jeito de ser, pensativo e silencioso, sempre refletindo sobre algo. A segunda é o resultado da coragem de criar e cantar versos ao contrário, usando o que o próprio verso diz sobre não se represar a regras para criar, sobre revirar as frases e todos os fonemas. As cores e os aromas das canções só podem ser percebidas por aqueles que verdadeiramente buscam encontrar sentido nas coisas, fazendo com que tudo a sua volta faça parte de um grande e significativo quadro.
Em “Sim e Fim” cada verso fala sobre sustentar a sua personalidade, de fazer o que se gosta e o que se acredita, não importando se os outros vão gostar ou não. Poderia colocar aqui cada verso e analisa-los, pois todos são extremamente significativos. Entretanto vou ressaltar um: A arte me ensinou a ter/ A minha voz no meio de outras vozes/Vermelho em verde claro/Cantar pra sempre e ser feliz. Simplesmente genial. Ter a minha voz como uma entre tantas, respeitando a vontade e a individualidade, sem deixar de fazer parte do grupo; bem como ter a minha própria voz apesar de tantas outras. Equilibrar a vida em sociedade com a necessidade de poder exercer a sua individualidade. E porque a arte ensinou? Porque a arte tem o poder de nos fazer olhar para dentro, de fazer que possamos nos compreender e a partir disso compreender os outros. Dessa forma não veremos a vida passar sendo apenas mais um que passou pelo mundo sem tentar fazer dele um lugar melhor.
Na música Satolep ele apresenta o seu universo particular, mostrando o ambiente em que foi criado, com as peculiaridades de sua vida e família (nada mais caseiro do que uma avó fazendo uma simpatia, ou um comentário com o pai sobre o tempo). Talvez ali encontremos um pouco da razão que o tornou tão liberto na prática criativa:
Sinto hoje em Satolep/O que há muito não sentia/O limiar da verdade/Roçando na face nua/As coisas não têm segredo/No corredor dessa nossa casa/Onde eu fico só com minha voz/A Dalva e o Kleber na sala/Tomando o mate das sete/A vó vem vindo da copa/Trazendo queijo em pedaços/Eu liberto nas palavras/Transmuto a minha vida em versos/Da maneira que eu bem quiser/Depois de tanto tempo de estudo/Venho pra cá em busca de mim.
Fascinante, depois de tanto tempo de estudo venho pra cá em busca de mim. Feliz daquele que tem na sua família como um esteio, um lugar para voltar e se reencontrar. Um lugar onde as experiências da vida dão lugar àquela criança que às vezes fica encarcerada dentro de nós pedindo para sair. Onde possamos achar muitos dos motivos que temos para ser do jeito que somos e repensar tudo que se passa ao redor.
Algum dia volto a escrever sobre esse disco fantástico, comtemplando o que ainda não comentei. E falta muita coisa. Para entrar em contato com a obra acessem www.vitorramil.com.br
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