segunda-feira, 7 de julho de 2008

Solidão e Convivência

Eu estava lendo um jornal, quando cheguei na parte que mais me interessa (caderno de cultura) e fui passando os olhos sobre os textos até achar a agenda de eventos. Como sempre, li os textos de alguns colunistas e, como sempre pulei Paulo Coelho. Entretanto desta feita ao repassar os olhos por sobre a página, li o título do texto dele e resolvi ler “Da Solidão Completa”. Acho que ele foi um pouco dramático demais, mas me inspirou a pensar e escrever este texto.
Muitas vezes tudo o que desejamos é um pouco de paz, sossego e solidão. Após um longo dia de trabalho, ou às vésperas de um. Durante a execução de uma tarefa, a leitura de um livro ou qualquer outra atividade que exija concentração. Há dias em que estamos mais propícios à meditação (não consigo me imaginar escrevendo este texto com alguém do lado querendo atenção). Há vezes que existe um simples e inexplicável desejo de estar sozinho.
Entretanto devemos separar esta solidão daquela patológica, aquela que aparece mesmo quando estamos rodeados de pessoas. Aquela que angustia e nos faz sentir que está faltando alguma coisa, que nos faz sentir fora deste mundo e tentar buscar respostas a perguntas que nos levam a um profundo desgosto sobre a condição humana. Que nos faz pensar sobre o temos feito de nossa vida e o que temos feito para que ela tome o rumo que desejamos. Que nos faz pensar que talvez nada do que se faça ou deixe de fazer possa preencher o imenso vazio interior que se instala. Que nos leva a refletir que talvez estejamos utilizando o nosso tempo de forma errada (mas nesse caso, o que seria certo fazer?). Nessas horas é que faz falta um relacionamento mais íntimo com alguém que tenha a capacidade de compreender que essas angústias são passageiras, mas que naquele momento um ombro amigo e um carinho dizem mais que mil palavras. Nesses dias de “tou cocô” é que podemos perceber o grau de envolvimento e entendimento entre as pessoas de um casal. Ter um relacionamento estável é uma ótima forma de escapar satisfatoriamente desses momentos de fragilidade.
Mas e quando se quer estar sozinho e essa mesma pessoa que te ajudou está por perto?
Mas e quando o outro “ta cocô” e nossa ajuda é necessária, como agimos?
E quando a necessidade de um estar sozinho acumula com um momento de fragilidade do outro o que fazer?
Não tenho a pretensão de responder a essas perguntas, até mesmo porque cada um deve achar as suas respostas e estas dependerão do grau de envolvimento de cada um com seus parceiros, das combinações e da sensibilidade de cada um. Teoricamente tudo isso – e muito mais – deveria ser pensado quando se aceita a convivência mais próxima de uma pessoa. Mas quantas pessoas será que se dispõem a pensar sobre isso? Talvez a vida conjugal seja justamente a arte de saber equilibrar todas estas coisas.
Certamente não existe um guia para saber como chegar às respostas e acho que as pessoas acabam de fato descobrindo o que realmente pensam sobre estas situações quando estas se apresentam. Saber lidar com elas deveria estar na análise de custo-benefício quando se inicia uma relação. É fundamental saber até onde conseguimos ceder/suportar para que a convivência possa ter alguma chance de dar certo.
Pelo que percebo a maioria das pessoas escolhe o método empírico: testa, vê no que dá, se não der certo, vai para a próxima. Um método válido como qualquer outro. Talvez um pouco mais doloroso, mas mais fácil de aceitar pelos padrões da nossa sociedade, onde a maioria olha para os seus imensos e inchados umbigos em busca de satisfação própria a qualquer custo. Os desejos, anseios e sentimentos alheios não valem muita coisa quando confrontados com as nossas “necessidades”. Este egocentrismo talvez esteja na raiz do próprio modo de ser do homem que parece ter ainda um longo caminho a trilhar até que aprenda a equilibrar as suas necessidades inviduais com as coletivas.