quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Pegue na pena e ...

Quanto tempo perdi me tolhendo desse prazer, às vezes por preguiça, às vezes por não saber o que fazer com resultado, às vezes ainda por achar que não sabia fazer, outras por temer o que os outros pensariam. Acho que a preguiça, venci pois já me peguei escrevendo as 4 da manhã antes de domir, as 7 da manhã ao acordar... Agora sei o que fazer com o resultado, eis aí meu blog. Se sei ou não fazer já não me importa, a satisfação de verem materializados os meus pensamentos nesta forma digital já é suficiente. Temer o que os outros pensam, superado, uma vez que se concordarem, terei achado alguém que pensa algo como eu, mas o mais importante, ele pensa e isso já vale a pena. Se discordarem, me deleitarei analisando seus argumentos e vendo tudo que deixei passar e, com isso, perceber que já valeu a pena por ter encontrado alguém que pensa com autonomia e que sabe sustentar suas opiniões. Eu ADORO uma boa discussão com argumentos sólidos e palavras bem escolhidas, com conteúdo não-óbvio, sem afetação intelectual.
Preciso agora praticar a conversa casual de barzinho, sobre amenidades sem fazer cara feia para alguém que comente sobre o que viu no Big Brother, no Faustão ou Pânico na TV. Ao menos a integridade do blog eu consigo manter.

Escola Diferente

Já vi diversas vezes situações onde vou verificar porque um aluno está com dificuldades na matéria. Algumas vezes há um real bloqueio de aptidões para a minha área, este aluno terá que ser olhado de um modo diferenciado. Outras vezes falta de compromisso é detectada, é necessário que se oriente o aluno com relação às suas responsabilidades. Nenhuma dessas situações me preocupa, pois são fáceis de contornar desde que haja entendimento de ambas as partes. O que realmente me deixa triste é quando um aluno diz que não gosta de determinada matéria e não sabe dizer por quê. Um exemplo clássico vem das ciências exatas, onde costumamos ouvir: “eu nunca gostei de matemática”. Eu próprio sou um traumatizado, o fato de não gostar de saber os nomes de quem fez o que é uma seqüela dos nomes e datas que fui obrigado a decorar no ensino médio.
Mas será que a culpa de não gostar de matemática é do aluno ou de quem o ensinou os primeiros passos na matemática? E a culpa é de quem ensinou ou do sistema de ensino que vem perpetuando mazelas de formação há muito tempo?
Prefiro por a culpa no sistema arcaico que se tenta, em vão, modernizar todos os anos. Somos prisioneiros de um sistema educacional que oprime alunos e educadores. Claro que isso é apenas uma parte de todo o jogo familiar e social que vem se modificando e cada vez mais sobrecarregando as escolas. Sobrecarregando? Talvez não seja esta a palavra correta, pois, na minha opinião, os alunos poderiam passar mais tempo na escola, mas não nesta escola que temos hoje em dia (esta sim sobrecarregada).
Como então sair dessa arapuca que o tempo e a evolução da sociedade nos prepararam?
Vai aí uma proposta utópica mas talvez mais eficaz do que a escola que temos hoje. Para os padrões econômicos atuais essa escola é inviável, mas não custa sonhar.
Vamos então eliminar as seqüelas sofridas pelos educadores das séries iniciais, fazendo-os interagir com os colegas das séries mais adiantadas (incluindo o ensino médio). Dessa forma poderíamos sanar as dificuldades básicas que ocorrem nas séries iniciais. Não é de forma alguma uma ato discriminatório afirmando que os educadores de séries iniciais sejam incompetentes, somente é uma forma de jogar novos olhares ao processo inicial do ensino.
Defendo a presença de educadores de ensino médio em todas as partes do processo educativo desde as séries iniciais, pois estes têm uma visão mais clara e próxima do perfil do egresso do ensino médio.
Para que tal proposta funcionasse seria necessário que todos os educadores da escola fossem contratados em tempo integral, podendo se dedicar a uma só escola, com tempo livre nos turnos inversos. Neste tempo “livre” os professores poderiam reunir-se para discutir temas, preparar materiais, dar reforço e acompanhamento mais próximo aos alunos com dificuldades. Dessa forma, todos os educadores estariam envolvidos na formação dos alunos desde o começo até o fim da escola. Se cria um ambiente onde alunos e educadores se envolvem em atividades que promovem crescimento mútuo.
Tudo muito bonito, mas quais as dificuldades em implementar essa escola? Primeiro, é necessário que os educadores saibam ouvir, pensar e discutir despindo-se de suas vaidades intelectuais, abrindo-se a sugestões e críticas. Segundo, os educadores envolvidos sentirem realmente que o trabalho funcionou porque todos ajudaram, acreditando na força da equipe e não de líderes destacados. Terceiro, verdadeiro respeito mútuo (talvez este o mais difícil). Além de inviável economicamente essa escola necessitaria de pessoas equilibradas, com uma boa dose de autoconhecimento e vontade de fazer a diferença no mundo que os rodeia. Expus a cara a tapa agora pretendo levá-los!!

Orgulho e Preconceito

Tudo bem que estou meio atrasado e o filme já não é tão novo, mas não posso deixar passar em branco uma obra como essa. Tudo perfeito, atuações, temas, fotografia, direção, figurino, etc. Não costumo ser detalhista com nomes, me apego mais ao que foi dito e feito, quem se interessar pelos detalhes de quem fez o quê, procure que vale a pena.
Não sei também se concorreu ao Oscar de alguma categoria ou não (também não ligo muito para isso). Fiquei encantado com os diálogos entabulados pelos personagens e da forma como as suas feições ficaram perfeitas em determinados momentos. Desde os coadjuvantes aos principais, todos perfeitos, há muito tempo não assistia um filme com tantas qualidades.
Os temas principais representados pelos personagens principais chegam a doer de tão puros, aparentes nitidamente em suas posturas, olhares, gestos, vacilos, ímpetos. Costumo ser bastante crítico em relação a tudo, falo tudo o que penso, e isso às vezes afasta as pessoas de mim, mas dessa vez não tenho o que retocar. É claro que para tudo há seu tempo na vida, mas até este momento e, no momento que vivo, não consigo lembrar de um filme que tenha me dado tanto prazer ao assistir.
Geralmente não gosto de finais felizes e previsíveis (como geralmente ocorre nas comédias românticas, onde basta ver a primeira cena para saber o resto), mas o roteiro trabalha tão bem as questões a que se propõe que não posso fazer nada a não ser me rasgar em elogios. Quem ainda não assistiu, não perca uma chance de assistir!!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Igreja está certa!!!!!!

Alguns dias antes do carnaval não acredito nas manchetes que vejo. Igreja condena distribuição de pílula do dia seguinte (PDS). Em seguida vejo o outro lado da polêmica “ministro aprova disribuição da PDS. Está feita a balbúrdia e, creio, pela primeira vez a Igreja Católica está do lado certo.

Nos últimos 20 anos temos sido alvo de inúmeras campanhas de prevenção de AIDS. Prevenindo-a com uso de preservativos, estaremos prevenindo o resto das doenças venéreas. Quer parecer-me portanto, que o grande problema dos últimos anos tem sido prevenção de doenças nas datas festivas, não prevenção de gravidez. Num mundo onde as pessoas se conhecem num momento e alguns minutos depois estão trocando carícias íntimas, justifica-se plenamente o uso de preservativos até pra escovar os dentes (tá bom eu exagero às vezes).

Nada contra quem goste de transar sem saber o nome do parceiro, ao menos que se cuidem. O que de fato me preocupa é como que um sujeito que pensa em distribuir PDS no carnaval chegou a ministro da saúde? Como alguém que não tem sequer noção do que tem acontecido pelo mundo nos últimos 20 anos pode chegar ao cargo máximo da saúde no país? Na entrevista da TV, achando que ameniza a situação, ele ainda falou que a PDS só será distribuída com receita médica!!

Imagina a situação: a menina tomou uns tragos, conheceu um rapaz, rolou de tudo. Tomam uns tragos a mais e vão dormir as 6 da manhã. Nada demais até agora. Com tanto álcool e cansaço, ela não sai da cama antes das 4 da tarde ainda terá que se arrumar, com ressaca e tudo, passar no médico, depois no posto de saúde para pegar a pílula. Fala sério seu ministro, se ainda não fosse carnaval até amenizaria um pouco a sua falta de competência, mas assim não dá.

Fica aqui somente meu grito de indignação, perde uma discussão com a Igreja Católica arcaica, vai empatar com quem?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Metrópolis

Ah a tecnologia!! Que nos permite fazer downloads de coisas que não se acha mais por aí. O alvo dessa vez foi o filme Metrópolis (1926). Com tudo conspirando a favor, fui obrigado a escrever, já que acabo de ler um outro clássico produzido à mesma época e versando sobre os mesmos temas: “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley, 1931). Ambas as obras tratam da transformação que a sociedade ocidental começava a sofrer pela especifização de tarefas. No livro de Huxley o tema é tratado de forma até mesmo caricata algumas vezes, mas que vai ao fundo de questões como a falta de crítica e auto-crítica, ausência de espiritualização e, de um modo muito assustador, o controle químico e psicológico do comportamento dos indivíduos (só para citar alguns dos temas).

Obras de ficção pessimista ou nem tanto?

Não vejo atualmente um quadro muito diferente do que eles pintaram há 80 anos. Vejo grandes redes de informação controlando a opinião pública comportamento cada vez mais voltados à contemplação fria e não ao questionamento. Criando um ideal de felicidade sempre relacionado a fama e fortuna, que às vezes impede que as pequenas coisas que se tem sejam devidamente apreciadas.

Assim como no filme vemos pessoas seguindo de cabeça baixa desenvolvendo suas tarefas diárias de modo mecânico e repetitivo, tanto em casa como no trabalho. Uma vida cujo horizonte de felicidade está à vista, mas sempre mais além.

Em uma cena marcante o personagem principal do filme tem uma alucinação enxergando Moloc, um Deus pagão bíblico que exige sacrifícios humanos, que exige vidas de homens em troca do seu funcionamento, nítida referência ao poder das máquinas sobre o homem a partir da “fordização” das relações de trabalho. A máquina deixa de ser um instrumento de produção para ser um motivo pelo qual se vive.

A esperança de redenção vem da união entre mente e corpo unidos através do coração na construção de uma sociedade mais justa.

Não escrevo mais para não estragar o deleite daqueles que quiserem assistir e ler o livro, tive muita sorte de ler e assistir na mesma época e recomendo o pacote.

Breve história recente do ensino

Ao longo de dez anos de sala de aula pude vivenciar algumas fases e modas do nosso sistema educacional. Logo que comecei a onda era a da escola-empresa. Instituições confessionais entregaram as suas direções de escola aos leigos, que passaram a modelar as escolas como máquinas de fazer dinheiro, tratando alunos e pais como clientes. Professores eram obrigados a assistir cursos sobre gestão de recursos e pessoas, ferramentas de avaliação de qualidade, tentando transformar professores em funcionários de cubículo e alunos em máquinas de produtividade. Obviamente esse sistema falhou, ninguém aprende com a regularidade de uma máquina, ninguém cria por obrigação.

A tentativa seguinte foi um retorno ao construtivismo com ênfase em interdisciplinaridade. Com enfoque na produção de conhecimento a partir de experiências cotidianas, com interação com a bagagem sócio-cultural dos alunos. Mais uma vez um fracasso. Não adianta impor uma mudança desse tipo à força, com professores que tiveram uma formação clássica e tradicional, sem fornecer-lhes as condições necessárias a um projeto ambicioso como este. Faltaram tempo de preparação, subsídios e fundamentalmente, interação entre os professores.

Agora ainda vivemos o final da última onda, de inclusão a todo custo, como se recuperar pessoas com necessidades especiais fosse a grande saída para a sociedade. Não me aprofundo na questão mas concordo que deve haver em alguns casos, mas com a devida capacitação dos profissionais envolvidos.

Sinto no ar uma nova mudança, uma volta ao velho conteudismo. Com todas as discussões a respeito da política de cotas, o vestibular voltou a ser um assunto corrente. Talvez isso seja só um reflexo do grande interesse que os concursos públicos têm atraído nos últimos 10 anos. Isso representaria um grande retrocesso no processo educativo, que, apesar de não ter achado o seu caminho, ao menos andou um pouco. Entretanto andar em círculos não é uma boa idéia. A volta ao velho conteudismo pró-vestibular seria preparar mais algumas pessoas para trilhar caminhos convencionais, com vistas somente à realização de uma prova. Perde-se muito tempo ensinando coisas que na maioria das vezes será inútil na vida dos alunos. Não digo que tudo deva ter sentido o tempo todo, mas gastamos muito tempo ensinando coisas que poderiam ser abdicadas em favor de outras.

Muitas críticas, mas e sugestões? Em breve neste blog apresentarei minha proposta de escola e ensino (sempre é bom ter uma utopia para olhar).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pré-conceitos

Admito sou um pré-conceituoso, como muitos por aí. Toda vez que me defronto com algo, já tenho uma imagem pré-formada do que me espera, o que muitas vezes me impede de enxergar as coisas agradáveis que poderiam suceder. Não é algo a se envergonhar, muito menos de se orgulhar, que todos tenham um pouco disso, afinal a nossa bagagem intelectual está sempre ligada para tentar nos livrar das roubadas que aparecem por aí. Talvez isso seja reflexo de uma certa arrogância intelectual despertada pela vaidade de achar que já sei de tudo. Não sou o único a fazê-lo e é compreensível, mas sei que devo fazer uma força grande para impedir que ela aja e continue fazendo estragos.

Toda vez que utilizamos nossos pré-conceitos acabamos por fechar portas que às vezes nos levariam a viagens prazerosas. É como lembrar de Almir Sater por ter feito novelas ruins e não saber que o cara é um dos virtuosi da viola caipira brasileira, que compôs junto com Rolando Boldrin e Renato Teixeira entre outros. Quem não conhece, drible o seu pré-conceito e dê uma olhada em Te Amo em Sonhos, Tocando em Frente, Na Estrada do Sonho, só para começar.

O mesmo acontece com a música gaúcha, tão sofrida pelos estigmas do que a mídia rotulou e que divulga amplamente, deixando de lado as músicas que realmente trazem idéias que valham a pena refletir. Acredito que com a música gaúcha seja um pouco mais difícil deixar o pré-conceito de lado porque algumas vezes parece que as músicas estão em outro idioma. Entretanto é só um vocabulário antiquado e voltado a um tipo de atividade que se separou da vida das cidades há algum tempo.

O vocabulário é só uma desculpa esfarrapada para se afastar deste tipo de música. Tem gente que estuda outras línguas a vida inteira, aprecia as letras e não se dá conta de que teve que estudar muito mais do que necessitaria para entender as músicas da sua terra. Uma vez com a cabeça aliviada dessas preocupações iniciais, abre-se um mundo riquíssimo de temas. Sem querer ser ufanista, mas já sendo, eu duvido que em outra cultura se encontre tantos assuntos, metáforas, abordagens quanto na cultura gaúcha.

Os temas vão desde discussões existenciais até os temas sociais mais polêmicos, passando por lendas, amores, passagens da vida cotidiana, etc.

Obviamente não estou falando de todas as músicas que atualmente fazem sucesso popular, tem muito lixo rolando por aí, que se junta ao resto da lixeira cultural em que este país se tornou. De vez em quando vou rechear os artigos por aqui com trechos de músicas e seus respectivos pares produzidos por aí, ilustrando um pouco as minhas idéias recém publicadas.

Como inauguração vai aí uma comparação da Balada do louco (Arnaldo Batista/Rita Lee) e O Louco (Cenair Maicá): “Eu juro que é melhor não ser um normal se posso pensar que Deus sou eu”; “E neste mundo maleva, de tão difícil guarida, quem sabe o sonho do louco é melhor que outra vida”.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Saia da toca, use sua inspiração

A página em branco continua desafiadora, as teclas anseiam por um toque, ora tenso quando a inspiração surge impetuosa, ora terno como nas carícias mais íntimas. Mas a inspiração não é de se entregar a qualquer momento, embora a todas as pessoas. É comumente desprezada ao surgir, talvez por falta de costume ou sensibilidade, aparecendo somente aos outros. Elitizada por um modo de vida que soterra os sonhos, amassa as esperanças, minimiza os anseios, fazendo com que tudo pareça banal, delegando as tarefas criativas a alguns “iluminados”. Como é bom entrar no mundo desses iluminados! Penetrar no mundo suas idéias, mesmo continuando vazios ao sair de lá, sem perceber que semelhante luz, genialidade e mundo fantástico encontram-se, também, dentro de cada um que o mundo dos outros vasculha.

Inspiração

Como a pluma, como a bruma

Quase despercebida, quase sempre ignorada

É a luz de uma vivência, retrato da sua inteligência

Comum a todos nós, como um entre tantos nós

Em um momento rompe o marasmo

Explode com entusiasmo

Nos lança

Em um turbilhão

Fala alto ao coração e este à mão

O desejo liberto se arroga, esperto, se joga

Na mão de quem escreve




Se até um físico pode fazer poesia, quem não pode? Escreva sempre que puder.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Carência de Aconchego

Estava eu fazendo um arranjo para “De volta pro meu aconchego” (Nando Cordel/Dominguinhos) e pensando na falta que faz pronunciar as frases da música com sinceridade. Poder dizer o que se sente, de peito aberto, sem receios, somente dando vazão a um sentimento puro e transparente.

Sentir que o sorriso sincero veio do fundo do coração, com entrega total e que realmente alivie todos os cansaços da vida. Perceber que estar junto de novo é um prazer tão grande e indescritível quanto sentir o calor do corpo e do beijo amados. Simplesmente estar junto olhando as nuvens a passar, reconhecer nelas contornos da pessoa que tanto se quer, ou enxergar as maiores bobagens sem se preocupar com o tempo que passa.

Contemplar o firmamento e perceber que a estrela mais linda está ao seu lado totalmente sem reservas, com os olhos espelhando todas as outras dando àquelas tão distantes um pouco mais de doçura.

A distância faz parte da convivência, traz com ela a vontade de rever a pessoa amada. A saudade queima no peito, faz com que o tempo passe mais devagar. Torna as horas insuportáveis, aumenta a cada minuto, aumentando o êxtase do momento do retorno quando poderemos, finalmente, cantar a música e sentir cada palavra de cada verso como se o poeta nos observasse ao escrever.

Ai que falta que faz...

Onde Estão os Nossos Líderes?

Escândalos, corrupção aberta, escancarada e ninguém fica vermelho. O bombardeio de notícias sobre falta de honestidade e caráter acaba nos fazendo achar que tudo isso é normal. Quem tem coragem de olhar para o seu filho, seu aluno, enfim, alguém mais jovem e dizer que esse é um exemplo a ser seguido?

Creio que há duas classes de líderes, os inspiradores: poetas, escritores, músicos, artistas em geral que nos fazem pensar. Eles nos inspiram a assumir determinadas condutas e a pensar na vida, dando sentido a ela. Cabe a nós decidir qual deles apreciar, analisar, contestar, reescrever, etc. A sua produção está lá, pronta para ser desvendada, promovendo o nosso crescimento pessoal.

Há também os líderes ativos: pessoas com trabalhos de cunho social, político e econômico que nos mostram como pensar e agir em prol de uma sociedade mais justa e humanitária. São pessoas que independentemente de partido político ou orientação ideológica conseguem fazer com que as pessoas acreditem nos seus projetos e aspirações. Sob essa liderança as pessoas saem de casa, tomam as ruas, lutam por seus direitos, mostram a cara e se arriscam pelos seus ideais.

Quando um país tem líderes desses 2 tipos, o equilíbrio social parece somente uma questão de tempo, já que cada grupo se reunirá ao redor dos seus líderes e ideais reivindicando seus direitos.

Os anos 70 foram palco para uma limpeza geral das nossas lideranças. Músicos, escritores, professores, políticos e todo tipo de pessoa desalinhada com o governo da época foi reprimida. Quando falo de repressão, não falo de mandar Caetano Veloso e Chico Buarque para o exílio. Falo daqueles pequenos líderes que fizeram com que a população se mobilizasse e fosse as ruas protestar em diversos momentos da nossa história. Falo daqueles líderes de sindicatos, grupos comunitários, lideranças pequenas que foram brutalmente torturadas e assassinadas nos porões da ditadura.

O resultado disso tudo é o que vemos hoje, um povo que não participa da vida política do país, tendo verdadeira aversão à palavra “política”, que aceita tudo de cabeça baixa, que assiste seus governantes fazendo de tudo e não resolvendo nada. Resumindo, o brasileiro virou um povo “bundão”, que aceita passivamente tudo o que acontece, que vê as suas economias sendo presas e seu patrimônio ser dilapidado sem reagir.

Cadê os nossos líderes ativos? Sei que eles devem existir por aí em pequenas quantidades, tenho alguns em mente mas não me atrevo a dizê-los com medo de me arrepender depois. Enquanto isso o povão ouve funk do créu (ou algo parecido) e discute futebol e nada mais.

Equilíbrio

Que palavrinha complicada. Cada vez tem sido mais difícil fazer com que ela seja observada no nosso mundinho. No link abaixo vai uma sugestão de música para viajar um pouco, desde que se tenha tempo de ouvir os 18 minutos prestando atenção na letra, na forma como a música interage com a letra e pinta um pano de fundo perfeito e harmonioso para viajar com ela. A variação dos compassos e ritmos, quebra de compassos e ritmos nos lançam num turbilhão de divagações e sentimentos que inquietam até o seu último momento onde a paz é alcançada e tudo parece tranqüilo.

http://musica.busca.uol.com.br/radio/index.php?ad=on&ref=Musica&busca=hemispheres&param1=homebusca&q=hemispheres&check=musica

São batalhas, lamentos, desespero, tudo reunido em melodias bem construídas sobre uma letra primorosa que foca a falta de equilíbrio de se viver num mundo sem emoções ou sem objetividade. Basicamente são retratadas as situações de uma sociedade fictícia que é regida pelas emoções e materialismo separadamente. Dos conflitos gerados nas tentativas de construir o caráter dessa sociedade surge o equilíbrio como solução para os problemas.

“Let the truth of love be lighted

Let the love of truth shine clear”

Se Aconchegue Dersu

Recentemente voltei a assistir um filme que há muito tempo pensava em rever. Daqueles atemporais e que calam fundo na alma dos que às vezes se angustiam com o rumo que as coisas andam tomando no mundo. Um mundo onde as coisas valem pelo que parecem; onde o almejado está sempre mais além, onde a felicidade é sempre do outro e chegará também para mim, mas só amanhã; onde os pequenos prazeres da vida são deixados de lado pelas suas imperfeições, como alguém que olha o pôr-do-sol sobre o rio e enxerga apenas o horizonte, este sim belo, mas sem se aproximar da margem e seu cenário inquietante.

Que medo é esse de olhar ao seu redor e enxergar o que realmente se passa? Será que sem olhar sequer ao redor estaremos aptos a olhar para dentro? Que adianta olhar o horizonte ao longe se ele será apenas uma alegoria, sem perceber que ele é apenas um fim, sem nos mostrar o caminho?

No filme Dersu Uzala é contada a história de um grupo de soldados que é conduzido por uma floresta por um homem conhecedor da região que perdeu a família, vitimada pela varíola. Inicialmente desdenhado pelo grupo, Dersu aos poucos apresenta sua sabedoria sobre a natureza e a natureza do homem. Após uma série de acontecimentos, ele acaba por conquistar confiança, respeito e, finalmente carinho dos homens, principalmente do Capitão. Dersu conquista a todos desde os primeiros instantes por seu jeito puro e sincero como o personagem Mário Ruoppolo de O carteiro e o Poeta. Mostra a perspicácia e habilidade de um homem simples e humilde. Alguém que conquistou sua sabedoria ao observar as coisas como elas são em sua essência.

Na cena final da primeira parte os homens após se separarem de Dersu começam a cantar exatamente como faziam antes de conhecê-lo. Apesar de todas as experiências passadas pouco se modificaram, eles que agora andam sobre a linha do trem, linha das suas vidas retas e predestinadas. O Capitão os faz parar e se volta para acenar para Dersu como quem diz “obrigado por me fazer um pouco mais livre, apesar das amarras”.

Ao assistir o filme, diversas vezes me lembrei da frase de Tolstoi “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Dersu é o retrato do homem que interage, respeita e reflete a natureza ao seu redor, mostra as angústias do homem da região. Ele representa o índio, o caipira, o gaúcho, o nordestino sertanejo, sendo universal como todos estes, cada um a seu modo, mas todos fundamentalmente iguais.

O agito das grandes cidades fazem as pessoas esquecerem do que são, há tantas coisas parar ver e fazer que se esquecem de pensar. Esquecem de deixar o seu Dersu interior respirar um pouco (se é que imaginam que ele existe). As figuras do índio, do caipira, do gaúcho, do nordestino sertanejo, são vistas com desdém e arrogância, como se não fossem dignos de nota, apenas de pena. Talvez por não saberem se expressar sejam discriminados, o que os torna “ignorantes”.

Talvez um dia o homem comece a se voltar para as coisas mais simples que os cercam, encontrando metáforas que mostrem a essência da vida e das coisas e um novo horizonte se apresente.

Se aconchegue, Dersu, ao meu lado.

Vamos conversar um bocado.

Dando Boot

O que é esse arrepio que nasce na barriga, percorre o corpo, subindo até o topo da cabeça, onde queima, muda o humor, me torna melancólico? Melancólico e solitário eu sempre fui, mas por que isso agora me incomoda?

Talvez seja porque solidão e melancolia se tornam suportáveis quando não se olha pela janela que o coração escancara para o mundo. Olhar por ela é muito fácil quando a vista está favorável, quando se enxerga alguém que cativa a contemplação indefinida. Nesses momentos nos dispomos a tudo para não sair da janela, para poder se deleitar um pouco mais com a paisagem. As convicções se torcem, contorcem, se modificam, na esperança de que esses momentos de contemplação durem o quanto for possível.

Entretanto a vista vai sendo perscrutada cada vez mais a fundo, ganhando tonalidades diferentes. Há muita surpresa ao se encontrar imperfeições onde antes não se notara. Então, ou diminui-se a vontade de olhar, processo gradual que leva inexoravelmente ao afastamento da vista, ou reaprende-se a observá-la, com olhos diferentes, mais críticos, mas fundamentalmente intocados na vontade de continuar olhando.

Depois de muito tempo me proibindo de olhar pela janela, resolvi espiar e gostei do que vi. Observei atentamente e percebi várias nuances ausentes na impressão inicial. Percebi que não havia harmonia completa e, azar meu, ou sorte, já não sei dizer, não tive vontade de deixar de olhar. Corro agora, tentando não olhar, fecho os olhos, quero que a vista se afaste, mas ela continua impressa nitidamente na minha retina.

Como então livrar-me da angústia de fechar os olhos e continuar vendo o que não quero/devo ver?

Por quais mudanças devo passar para suportar?

Quais convicções estaria eu disposto a rever para que a situação se modifique?

Uma coisa é certa, uma vez que decidimos olhar pela janela, não conseguimos mais viver sem ela. Se devo olhar, agora, através dela, devo mudar muitas coisas. A criação deste blog e publicação de meus textos talvez seja o primeiro passo para sair do casulo onde entrei e relutei em sair. Estou aqui abrindo o mundo dos meus sentimentos a mim mesmo e a quem quiser ler e contribuir, pensando em coisas das quais sempre fugi.

Agradeço à pessoa que abriu os meus olhos, cuja imagem ainda está fixa na retina dos meus olhos fechados. Que nunca sumirá, pois acredito que na retina haja um espaço pequenino para cada pessoa que nos proporciona bons momentos. Esses bons momentos é o que desejo levar da vida.

Não olhar pela janela é não viver, só agora percebo. Esse recém-nascido agradece pela chance de poder viver.