Ao longo de dez anos de sala de aula pude vivenciar algumas fases e modas do nosso sistema educacional. Logo que comecei a onda era a da escola-empresa. Instituições confessionais entregaram as suas direções de escola aos leigos, que passaram a modelar as escolas como máquinas de fazer dinheiro, tratando alunos e pais como clientes. Professores eram obrigados a assistir cursos sobre gestão de recursos e pessoas, ferramentas de avaliação de qualidade, tentando transformar professores em funcionários de cubículo e alunos em máquinas de produtividade. Obviamente esse sistema falhou, ninguém aprende com a regularidade de uma máquina, ninguém cria por obrigação.
A tentativa seguinte foi um retorno ao construtivismo com ênfase
Agora ainda vivemos o final da última onda, de inclusão a todo custo, como se recuperar pessoas com necessidades especiais fosse a grande saída para a sociedade. Não me aprofundo na questão mas concordo que deve haver em alguns casos, mas com a devida capacitação dos profissionais envolvidos.
Sinto no ar uma nova mudança, uma volta ao velho conteudismo. Com todas as discussões a respeito da política de cotas, o vestibular voltou a ser um assunto corrente. Talvez isso seja só um reflexo do grande interesse que os concursos públicos têm atraído nos últimos 10 anos. Isso representaria um grande retrocesso no processo educativo, que, apesar de não ter achado o seu caminho, ao menos andou um pouco. Entretanto andar em círculos não é uma boa idéia. A volta ao velho conteudismo pró-vestibular seria preparar mais algumas pessoas para trilhar caminhos convencionais, com vistas somente à realização de uma prova. Perde-se muito tempo ensinando coisas que na maioria das vezes será inútil na vida dos alunos. Não digo que tudo deva ter sentido o tempo todo, mas gastamos muito tempo ensinando coisas que poderiam ser abdicadas em favor de outras.
Muitas críticas, mas e sugestões? Em breve neste blog apresentarei minha proposta de escola e ensino (sempre é bom ter uma utopia para olhar).
Um comentário:
Pois é, dou aula desde 2005 e desde então tenho visto a moda do ensino por projetos. A questão é que nunca há nenhuma avaliação esecífica para verificar se os aunos realmente aprendem com os tais projetos. E me parece que direção da escola não está muito interessada nisto. O importante é fazer algo diferente para ter uma fotinho para publicar no site da escola e fortalecer seu marketing.
Mas sobre a utopia de que falas no final do teu post, lembro-me de uma citação de Eduardo Galeano. Eu não botava fé nas utopias, mas depois que ouvi isto de um colega, professor de geografia, passei a botar:
"Eu caminho 10 passos,
ela se afasta 10 passos.
Eu caminho 20 passos,
ela se afasta 20 passos.
Eu caminho 30 passos,
ela se afasta 30 passos.
Para isso serve a utopia:
para caminhar."
Fiquei até arrepiada quando escrevi a última linha!!!
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