Eu estava lendo um jornal, quando cheguei na parte que mais me interessa (caderno de cultura) e fui passando os olhos sobre os textos até achar a agenda de eventos. Como sempre, li os textos de alguns colunistas e, como sempre pulei Paulo Coelho. Entretanto desta feita ao repassar os olhos por sobre a página, li o título do texto dele e resolvi ler “Da Solidão Completa”. Acho que ele foi um pouco dramático demais, mas me inspirou a pensar e escrever este texto.
Muitas vezes tudo o que desejamos é um pouco de paz, sossego e solidão. Após um longo dia de trabalho, ou às vésperas de um. Durante a execução de uma tarefa, a leitura de um livro ou qualquer outra atividade que exija concentração. Há dias em que estamos mais propícios à meditação (não consigo me imaginar escrevendo este texto com alguém do lado querendo atenção). Há vezes que existe um simples e inexplicável desejo de estar sozinho.
Entretanto devemos separar esta solidão daquela patológica, aquela que aparece mesmo quando estamos rodeados de pessoas. Aquela que angustia e nos faz sentir que está faltando alguma coisa, que nos faz sentir fora deste mundo e tentar buscar respostas a perguntas que nos levam a um profundo desgosto sobre a condição humana. Que nos faz pensar sobre o temos feito de nossa vida e o que temos feito para que ela tome o rumo que desejamos. Que nos faz pensar que talvez nada do que se faça ou deixe de fazer possa preencher o imenso vazio interior que se instala. Que nos leva a refletir que talvez estejamos utilizando o nosso tempo de forma errada (mas nesse caso, o que seria certo fazer?). Nessas horas é que faz falta um relacionamento mais íntimo com alguém que tenha a capacidade de compreender que essas angústias são passageiras, mas que naquele momento um ombro amigo e um carinho dizem mais que mil palavras. Nesses dias de “tou cocô” é que podemos perceber o grau de envolvimento e entendimento entre as pessoas de um casal. Ter um relacionamento estável é uma ótima forma de escapar satisfatoriamente desses momentos de fragilidade.
Mas e quando se quer estar sozinho e essa mesma pessoa que te ajudou está por perto?
Mas e quando o outro “ta cocô” e nossa ajuda é necessária, como agimos?
E quando a necessidade de um estar sozinho acumula com um momento de fragilidade do outro o que fazer?
Não tenho a pretensão de responder a essas perguntas, até mesmo porque cada um deve achar as suas respostas e estas dependerão do grau de envolvimento de cada um com seus parceiros, das combinações e da sensibilidade de cada um. Teoricamente tudo isso – e muito mais – deveria ser pensado quando se aceita a convivência mais próxima de uma pessoa. Mas quantas pessoas será que se dispõem a pensar sobre isso? Talvez a vida conjugal seja justamente a arte de saber equilibrar todas estas coisas.
Certamente não existe um guia para saber como chegar às respostas e acho que as pessoas acabam de fato descobrindo o que realmente pensam sobre estas situações quando estas se apresentam. Saber lidar com elas deveria estar na análise de custo-benefício quando se inicia uma relação. É fundamental saber até onde conseguimos ceder/suportar para que a convivência possa ter alguma chance de dar certo.
Pelo que percebo a maioria das pessoas escolhe o método empírico: testa, vê no que dá, se não der certo, vai para a próxima. Um método válido como qualquer outro. Talvez um pouco mais doloroso, mas mais fácil de aceitar pelos padrões da nossa sociedade, onde a maioria olha para os seus imensos e inchados umbigos em busca de satisfação própria a qualquer custo. Os desejos, anseios e sentimentos alheios não valem muita coisa quando confrontados com as nossas “necessidades”. Este egocentrismo talvez esteja na raiz do próprio modo de ser do homem que parece ter ainda um longo caminho a trilhar até que aprenda a equilibrar as suas necessidades inviduais com as coletivas.
Meu novo blog:
Há 15 anos
2 comentários:
Oi! Passei no teu blog para dar uma olhada se tinha algo novo e encontrei este texto. Enquanto eu ia lendo, vinham vindo idéias à minha cabeça. Por exemplo:
1) "que nos faz sentir fora deste mundo e tentar buscar respostas a perguntas que nos levam a um profundo desgosto sobre a condição humana": pois então, como tu pensas, né? Eu já ouvi tu dizendo - ou já li tu escrevendo, sei lá - várias vezes a expressão "perguntas e respostas". Tenho um livro do Rilke em que ele aconselha termos amor pelas nossas perguntas, para, com o tempo, gradativamente, vivermos as respostas. E acho que é disso mesmo que se trata. As respostas só virão com a vivência. Tenho uma amiga que estava em dúvida se casava com o amor da vida dela porque ela sabe que mais cedo ou mais tarde ele vai querer filhos, mas ela não quer. Mas ela mesma decidiu casar e tentar resolver o problema quando ele surgir. Um dos dois vai ter que ceder. Quem será? Não sabemos. Eles vão saber esta resposta daqui muito tempo. Quem garante que um dos dois não vai mudar de idéia? Pode ser que ela comece a morrer de amores pela idéia de ser mãe. O futuro é uma incógnita - e eu acho que isso te incomoda, né?
2) Que nos leva a refletir que talvez estejamos utilizando o nosso tempo de forma errada (mas nesse caso, o que seria certo fazer?): eu, pretensiosamente, sei o que é o certo a fazer no teu caso: não pense tanto. Vá vivendo. Viva! Pare de pensar um pouco, homem, pelo amor de Deus!!!
3) "Mas e quando se quer estar sozinho e essa mesma pessoa que te ajudou está por perto?
Mas e quando o outro “ta cocô” e nossa ajuda é necessária, como agimos?": simples, nessas horas em que a gente quer estar sozinho,mas o outro precisa de nós, a gente tolera a companhia quando tudo o que queríamos era a solidão. Tudo tem um preço, e o das coisas boas - categoria em que enquadro um relacionamento estável - costuma ser alto. Às vezes a gente tem que fazer o que não está com vontade. É ruim. Mas é assim.
4)"Certamente não existe um guia para saber como chegar às respostas": ainda bem, do contrário a vida seria um tédio.
5) "acho que as pessoas acabam de fato descobrindo o que realmente pensam sobre estas situações quando estas se apresentam": é o mais sensato a fazer, sem dúvida!
6) "Saber lidar com elas deveria estar na análise de custo-benefício quando se inicia uma relação.": impossível fazer isso, porque não sabemos o que vai acontecer com a relação. A relação custo-benefício de uma relação é muito flutuante (seria este o termo na Economia?). Não podemos saber se daqui uma semana ou daqui um ano ele não estará mais - ou menos - apaixonado e vice-versa, e o quanto mais - ou quanto menos - apaixonado(a) estará. Pode ser que ela fique milionária e isso o incomode, pode ser que ele fique desempregado, e isso a perturbe, pode ser que ela descubra que estéril, pode ser que ele traia ela com uma qualquer, ela descubra e perdoe, mas faça algumas exigências, ou não perdoe, e faça outras exigências, ou simplesmente finja que não sabe e traia ele também, ou não traia,... São infinitas as possibilidades, não tem como prevê-las, logo, não se pode calcular.
7) "Pelo que percebo a maioria das pessoas escolhe o método empírico: testa, vê no que dá, se não der certo, vai para a próxima": é o único método possível, acredite em mim. Não existe outro. Para experimentar uma relação, só experimentando. Ou, nas palavras de Drummond, "amar se aprende amando". Não existem teorias, cálculos, taxas e previsões. Sabe quem acredita nisso? Os autores e leitores de livros de auto-ajuda, que dão um monte de regras "aja assim, faça assado". Funciona? Claro que não!
8) "onde a maioria olha para os seus imensos e inchados umbigos em busca de satisfação própria a qualquer custo. Os desejos, anseios e sentimentos alheios não valem muita coisa quando confrontados com as nossas “necessidades”.": este é um viés possível de ver a situação, mas não o único. É claro que há sim quem se aproveite da boa fé dos outros para engrandecer seus egos. Mas nem sempre é esta a intenção. Eu acho muito mais egocêntrico rejeitar de arrancada uma pessoa porque, numa análise superficial, ela não corresponde ao que você quer de um(a) parceiro(a), como se houvesse um check-list de qualidades fundamentais. Apareceu alguém a fim de você? Dê-lhe (e dê-se) uma chance! Tudo bem que ela não faz seu tipo físico, que ela não gosta das mesmas músicas que você, que vote na direita, que assista ao Pânico. Releve tudo isso e tente. Pode ser que você descubra que vocês partilham coisas muito mais importantes - projetos de vida, valores, etc. E pode ser que não. E pode ser que, mesmo descobrindo afinidades, não role para você. Seja sincero com ela e dê o fora, para que ela possa procurar ser feliz com outra pessoa - e tu também. Não deu certo? Não. Ela ficou triste? Provavelmente. Mas você tentou. Ela saiu dessa história pensando que você é um canalha insensível que só a usou? Se sim, paciência. Tem uma cena no filme Um sonho de liberdade em que o protagonista foge da prisão através do cano de esgoto. Acho uma bela metáfora da vida (da vida de verdade, da vida bem vivida, uma vida que valeu a pena) e da liberdade: não se tem nenhuma dessas duas sem se sujar. Pra viver, tem que ter estômago!!!
Oi, como sempre, temos um debate, eu a-do-ro isso:
1) Sobre respeitarmos as nossas perguntas, concordo plenamente, tanto que eu ressalto bastante o fato de que cada um deve achar as suas respostas. O que me incomoda um pouco é somente o modo como elas são procuradas. O empirismo, de fato, leva a respostas, mas de forma não estruturada. Às vezes o real real sentido da experiência adquirida acaba se perdendo e estamos prontos para ingressar novamente em outro turbilhão de acontecimentos sem a mínima noção de como nos portar. Casualmente conheço uma pessoa que fez o que a tua amiga fez: casar sem querer ter filhos sem a anuência do parceiro. Resultado disso? Separação sem que um possa olhar para a cara do outro. O futuro é uma incógnita, sim, mas é no presente que tomamos as decisões que o influenciarão.
2)Aqui talvez esteja a maior diferença que nos leva a incontáveis divergências. Eu acho que as pessoas são o que pensam, e é isso que torna as pessoas diferentes e ... interessantes. Se assim não fosse, todos seríamos meros produtos rotulados e bastaríamos nos olharmos para sabermos o conteúdo. Viver sem pensar é o mesmo que, na minha opinião, vegetar, existir sem sentido.
3) Concordo. Eu acho que é assim que funciona, mas o que percebemos é que não faríamos isso por qualquer pessoa. Esse tipo de tolerância é uma das coisas que cultivamos ao conhecer uma pessoa com intimidade (mesmo numa amizade). Mas será que é esse tipo de comportamento que encontramos po aí a fora? Creio que não. Se você segurar a "barra" de algum(a) namorado(a) e achar que foi um desperdício de tempo, caia fora, saia correndo, pois com a convivência a tendência é piorar (durante um namoro a convivência é menor e você não tem que segurar TODAS as barras). Não é agradável segurar os "bodes" de ninguém, mas para algumas pessoas o fazemos com tranqüilidade.
4) Aham.
5) Não concordo que seja o mais sensato a fazer. Obviamente não podemos prever tudo o que acontecerá. Mas podemos e devemos saber o que conseguimos ou não tolerar, isto não dói e é básico. Você, ao comprar Nescau em vez de Toddy está fazendo o mesmo que faz ao preferir não se relacionar com alguém, por exemplo arrogante demais. Creio que não pensar seja uma ótima forma de quebrar a cara (não que pensar o evite, mas evita as quebradas mais óbvias).
6) Concordo com tudo!! Não acho que leve a tal determinismo estático. Você leva muito a ponta de faca as coisas que eu escrevo, quando eu falo em pensar, não falo em cálculos precisos, simplesmente falo de obviedades que são simples de perceber e decidir o que fazer, sem ressentimentos. Tais obviedades existem e cabe a cada um decidir como tratar com elas, com adaptação ou separação. Acho as duas alternativas igualmente viáveis.
7) Por favor!! Acho que eu mereço mais do que uma comparação com um livro de auto-ajuda! Não estou dando receitas. Estou apenas fazendo perguntas, gerando inquietude (como diria o Vitor Ramil: inquietude gera o autoconhecimento e autoconhecimento é isso tudo aqui). Fico feliz que um texto meu gere inquietude em alguém. De forma alguma estou dizendo a alguém o que fazer, digo simplesmente: pense.
8)Olhe ao seu redor! Se aquele mendigo que te estendeu a mão na rua disser que está afim de ti tu abraça a causa e dá uma chance? Creio que não. Todos têm seus critérios de seleção e você deve prezá-los, sim. Cada um usa os seus e não acho lícitoestranhar nem vetar qualquer um deles.
"Seja sincero e dê o fora". Perfeito! É o que eu faço e acho que é o que todos deveriam fazer. O que se percebe é que muita gente acaba caindo fora somente quando já tem outra pessoa em vista por medo de ficar sozinha(nossa, quanta dependência). É aí que se criam grandes intolerâncias e inimizades.
Se eu pensasse que a vida é um esgoto, jamais cessaria de tentar limpá-la. Acho bastante pessimista ver a vida sob esta ótica. Certamente ela não é um paraíso, mas eu prefiro compará-la a um pedaço de terra que nos é dado. Se deixarmos que ela vire uma lixeira a culpa é do nosso desleixo. Se semearmos corretamente, teremos flores e frutos. Mas não basta a semearmos. Há que se cuidar dela, adubar, capinar, enterrar as ervas daninhas e transformá-las em adubo para o resto. Neste processo certamente você se suja, mas sempre a prendendo a cuidar dela cada vez melhor. Com o tempo aprendemos que há épocas certas para semear. Talvez o que não tenha florescido hoje possa florescer mais tarde.
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