É estranho o processo de criação. Você está num dia daqueles em que nada que se faça satisfaz a inquietação. Mais ou menos como quando se sai de casa e se tem a impressão de que esqueceu algo. Não há comida, bebida ou diversão que aplaque a sensação. De repente aparece uma caneta e um papel e os rabiscos começam a tomar forma, palavras soltas que se unem tomando algum significado para quem escreve. Pronto criou-se um poema, um texto, uma música, etc. A coisa vai saindo espontaneamente, sem fazer força. Aquele incômodo vai embora junto com a angústia que gerava o tema em questão.
Nos momentos de inpiração as idéias surgem aos borbotões. Temos que tomar cuidado para não perder as idéias que vão surgindo nem o foco dos pensamentos. Depois de algum tempo ao analisar o que foi produzido, parece que estamos olhando uma criação alheia(Vitor Ramil escreveu algo do tipo "Olho nas mãos as veias/Com estranheza as contemplo/Como se fossem alheias").
Inspiração é a gota que transborda o copo da criação, libertando a torrente que brota do peito. Entramos numa espécie de transe criativo até que a última gota caia e possamos contemplar o resultado. Isso me lembra também uma exposição de algumas obras de Miró que vieram com alguns filmes que mostravam ele trabalhando. Fiquei vidrado nos filmes tentando imaginar o que ele estava pensando quando botou o pincel naquela determinada posição, nem mais para cima nem mais para baixo, por que justo ali? Por que aquela cor? O que será que ele via ao ver o resultado do trabalho no outro dia? Como ele percebia a própria criação?
Bom, eu admito, já estou na área do intangível, mas ao menos serve como exercício de curiosidade e questionamento a respeito do processo criativo. E por falar em processo criativo, esses questionamentos me apareceram desta vez depois de escrever um poeminha de físico:
Frio, amante que abandona os olhos
Que ao vento lacrimejam,
Não a falta mas a presença
Do ar que corta a pele
Faz companhia como o mate, impele
Para a frente em busca de lá.
Mas mesmo lá não estás
Está somente o outro frio
Ele corta, mas agora o peito.
A seiva do mate já não esquenta,
Não vai onde o frio queima,
Onde os olhos lacrimejam,
Não a presença mas a falta tua.
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Há 15 anos
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