sábado, 17 de maio de 2008

Sobre o Senso Comum

Uma colega professora de artes comentou comigo sobre uma situação de aula: alunos usando fones de ouvido enquanto desenham. Curiosa a respeito do que eles ouviam ela acabou tomando conhecimento do “créu”. Ela ficou um pouco chocada ao ficar sabendo que crianças de 5ª série estão expostas a um conteúdo que deveria ser impróprio para crianças dessa idade (e olha que ela não teve que assistir a deprimente cena da mulher melancia dançando o créu). Mas o que realmente a surpreendeu foi o fato de que quase todos estavam ouvindo o créu. E é aqui que começo a dissertar a respeito do fato.

Como eu já havia escrito no último post, o assunto que me chamou a atenção e que agora vasculho é o senso comum. Senso comum, penso eu, é a expressão usada para definir algo que se torna aceitável pelo simples fato de que muitas pessoas o fazem. É um comportamento de grupo no qual as pessoas agem ou pensam de acordo com a maioria, suprimindo sua individualidade. Muitas vezes o senso comum é algo óbvio, por exemplo: se você tomar banho de rio no inverno, ficará doente, então ninguém toma banho de rio no inverno. Continuemos com o rio: o Rio (Lago, como queiram) Guaíba é poluído, se você tomar banho nele poderá ficar doente. O senso comum diria: ninguém portanto tomará banho no dito rio. Pois aí começa a coisa, tem gente que toma banho no rio (por diversos motivos que agora não convém discutir). Começamos aí a perceber que o senso comum não é uma coisa indiferente à estrutura social vigente. Para o favelado o rio é a sua praia, suja ou não. Para o praticante de esportes aquáticos ele é a quadra de esportes. Cada um com seus motivos, pode violar o senso comum como bem entender.

Pessoas são discriminadas e/ou criticadas por terem posturas que não são aceitas pelas maiorias. Cada pessoa que preza sua individualidade tem um grau de desajuste com relação ao senso comum. E cada diferencinha que demonstramos em relação ao que é “normal” serve como motivo para pequenas discriminações diárias; como um aluno de ensino médio que gosta de música clássica e tem que ouvir piadinhas; ou aquele gaudério assumido que tem que conviver com gracinhas por demostrar seus gostos.

Citei apenas algumas coisas para ilustrar mas existe um número infindo de razões pela qual sofremos pequenas discriminações diárias, seja pela aparência ou pelas idéias.

O único modo de nos livrarmos de todo e qualquer tipo de “pegação de pé” dentro das nossas relações diárias é nos curvando à maioria. É aceitando o que nos é imposto pelas regras de convívio social e cultural de cada grupo de que participamos, suprimindo por vezes a nossa própria personalidade. Devemos cair no mesmismo da maioria e na mediocridade da unanimidade burra.

Num mundo onde as informações e modismos vêm e vão ficamos oprimidos por uma sensação de desajuste que às vezes nos deixa sem uma escolha diferente do isolamento.

Por sorte os desajustados existem aos montes por aí e ... como é bom o convívio com eles. Geralmente são pessoas que tem opiniões próprias sobre os mais diversos assuntos, resultado de desprendimento do senso comum, tempo de reflexão e personalidade bem cultivada. São pessoas ótimas para conversar, discordar, discutir e, no final de tudo, admirar pela coragem que têm de serem elas mesmas. Com isso os horizontes se alargam e a vida ganha novas dimensões.

Depois de tanto ir e vir pela vida acabei descobrindo que eu e o senso comum somos inimigos mortais e que eu não conseguiria conviver com uma pessoa que almeja as coisas banais da vida sem dar valor ao que temos de mais caro que são os momentos de convívio, pacífico ou não, mas intenso, sempre intenso. Momentos em que nos sentimos vivos pelo fato de podermos nos expressar sem medo de julgamentos, exercendo a nossa individualidade em cada segundo. Sem isso a vida me pareceria algo como um passeio a algum lugar distante com roteiro pré-programado, sem pôr o pé para fora do ônibus.

Obviamente esse post merece por encerramento:

“Enquanto você se esforça pra ser

Um sujeito normal e fazer tudo igual

Eu do meu lado aprendendo a ser louco

Maluco total, na loucura real”

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