Dia frio, feriado e eu aqui pensando onde foi parar o pensamento livre e crítico. O que percebo é que ele está encarcerado numa espécie de gueto e tomado de empáfia e afetação. Quem o pôs lá? Ou sendo mais imediatista, não querendo remexer no baú da história, o que o mantém por lá? A massificação da informação é um das grandes características do nosso tempo. Mas o que é feito com essa informação toda e como ela afeta e dirige a vida das pessoas? Se a informação está disponível para muita gente então porque as pessoas preferem se abster de analisá-la do seu modo e tirar suas próprias conclusões?
Certamente as respostas a essas perguntas todas fogem ao escopo desse post, mas algumas pistas podemos ter. Informar deveria ser apenas contar os fatos, os bons jornalistas se limitam a fazer isso. Entretanto o que percebemos é uma maciça carga de ideologia sendo esparramada em cada linha que se vê ou ouve. Um exemplo para ilustrar é o julgamento em praça pública que foi feito com os pais que tiveram a sua filha morta por uma queda, o famoso “Caso Isabela”, que tem ocupado horas nos noticiários em todos os canais, horários e meios de informação. Um dos primeiros preceitos do direito é que o que deve ser provado é a culpa. Não estou defendendo os pais, só estou defendendo o direito que eles têm de serem julgados no tribunal, com isenção, assim que todos os fatos forem apurados. O mais engraçado (not funny) de tudo é ver os jornalistas que se prestam a fazer essas coberturas lamentáveis, reclamando por não conseguirem se aproximar do prédio por haver...muitos jornalistas. Quando esse tipo de crítica que estou fazendo é dita, estes jornalistas se defendem com algo do tipo: “nós estamos dando o que o povo quer!”.
O que o povo quer!?
E quem sabe o que o povo quer? Talvez eles saibam o que o povo quer porque eles ajudam a filtrar informações, de modo que todos se acostumem a querer o mesmo tipo de coisa (bah!, até já sei o tema do próximo post). As informações são enviadas sob uma máscara de senso comum que escapa, às vezes, às mentes mais afiadas. Antes mesmo de as pessoas se perguntarem, o porquê de estarem cobrindo essa história, elas são levadas a darem o seu veredito (aqui o word quer que eu escreva veredicto!). Tem tanto crime sendo cometido por aí! Roubalheira política, guerras de traficantes, crianças jogadas ao léu pela rua, trabalho escravo, etc. Tanta coisa mais angustiante que um casal de classe média cuja filha caiu da janela. Tanta coisa com impacto social mais importante e se gasta tanto tempo com uma insignificância.
As tentativas que vejo de abrir os olhos do povo para alguns problemas acabam esbarrando em direcionamentos equivocados de intenções. Lembro que no começo dos anos 80 Eduardo Dusek (que hoje se assina Dussek) lançou uma música que virou um grande sucesso. Puxa vida! Uma música com conteúdo social relevante sendo veiculada abertamente. Ele começava dizendo que tinha criança querendo levar vida de cachorro. Ele escolheu o rock provavelmente por ser a onda do momento, de fácil aceitação e distribuição. Um rock escrachado que tocava o dedo na ferida. Mas se perguntarem a maioria das pessoas o que se lembram verão que o que sobrou foi: “lembra que tinha uma musiquinha engraçadinha... troque seu cachorro por uma criança pobre hahahhah”. Como se isso fosse engraçado. Não vou me aprofundar no tema, não desejo o extermínio dos caninos domésticos, mas que tem bichano por aí levando vida melhor que vida de gente, ah! Isso tem! Na minha opinião é uma inversão de situação em relação ao que o homem pensa de si próprio como sendo mais importante que o resto dos animais. Mas isso já é outro papo.
Assim vamos seguindo vendo as tentativas de manipular as nossas mentes e corpos. Infelizmente percebo que as tentativas de manipulação funcionam com boa parte da população. Parece um beco sem saída, mas sigo remando (gracias Jorge Drexler).
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