domingo, 26 de outubro de 2008

Tocando em Frente

Apesar do título não vou fazer nenhum comentário a respeito da belíssima música de Almir Sater/Renato Teixeira.

Durante boa parte do meu dia me dedico a reflexões. Diversas em forma, conteúdo, modo de abordagem, profundidade, etc. Seja na hora de acordar, de dormir, nos translados pelos coletivos da cidade, resumindo, em qualquer situação em que minha atenção não é requerida para alguma outra tarefa. Talvez isso seja um reflexo direto da minha formação acadêmica e da forma racional com que costumo tratar as coisas. Para uns esse racionalismo exacerbado é meu principal defeito, para outros, uma qualidade a ser copiada. Confesso que durante muito tempo eu gostei, e muito, de ser assim tão racional e vejo que em algumas situações é bastante conveniente assim sê-lo.

Entretanto de uns tempos para cá tenho tentado ver as coisas sob uma ótica diferente, sair do meu referencial e procurar pontos de vista ainda não explorados. Talvez se eu desconfiasse do que me esperava, possivelmente não saísse do casulo em que me encontrava. Mas uma vez que se rompe o casulo, não há como repará-lo e voltar a se proteger (talvez essa seja a melhor parte disso tudo).

Bueno, a cascata de coisas que acontecem ao executarmos essa mudança de referencial é totalmente imprevisível de ser calculada. O que se torna possível é apenas perceber as mudanças que vão acontecendo e que às vezes nos pegam de surpresa ao tomar atitudes que antes pareceriam impossíveis.

Assisti há algum tempo atrás um ensaio de uma apresentação de crianças de escolas municipais. Possivelmente todas carentes de recursos financeiros. Mas à frente dessas crianças haviam profissionais interessadíssimos no desenvolvimento pessoal delas. Ensinando, orientando, cobrando, enfim, educando-as e tirando delas uma capacidade artística que muito provavelmente elas ignorassem. Ao observar a dedicação de cada um a sua tarefa era impossível ficar impassível. A alegria do local era contagiante e o resultado digno de artistas de primeira qualidade.

Depois de presenciar isso, parei para refletir sobre o que me havia tocado tanto no meio daquilo tudo. Acho que foi o fato de que pessoas com formação acadêmica estavam ensinando os rudimentos da arte a crianças com uma realidade muito dura, acreditando no potencial delas e acima de tudo fazendo-as acreditar no seu próprio potencial. Eis aí o ponto. Eles usam a sua experiência e formação profissional para tornar melhor a vida dos outros. Na verdade acho que aí reside um pouco a essência da tarefa de ser professor. Não simplesmente ensinar a sua matéria, mas a todo momento que for possível interagir com as pessoas, que durante essa fase da vida são chamadas de alunos.

A tarefa de um professor é muito árdua e mal reconhecida pela nossa sociedade por motivos que agora não convêm discutir. Mas uma parcela da culpa é dos próprios professores que às vezes não são as pessoas forjadas para o trabalho. Também não entro em outros desdobramentos que o assunto poderia ter. Me apego somente a características fundamenta da função: Educar. Educar em seu sentido mais amplo, formar um indivíduo para uma vida sadia em sociedade. Nem todos que atualmente trabalham com isso são pessoas preparadas para uma tarefa com tanta responsabilidade.

Parece que estou bombardeando a categoria a qual pertenço. Na verdade estou justamente defendendo e valorizando-a. Não quero dizer com isso que sou um professor perfeito, longe disso. Só estou ressaltando que tem gente que não foi forjado para isso e que boa parte de estar preparado para enfrentar a sala de aula está na vontade de educar. O que tudo isso tem a ver com o início do texto? Simples. Durante muito tempo ser um "ensinador de matéria" para mim foi satisfatório. Agora vejo que meu trabalho durante um tempo ficou pela metade, justamente quando percebo que meu outrora exacerbado racionalismo (não que ele não exista, mas tou tentando dar um jeito nele) me impedia de ver algo além de alunos como sendo meros números de estatística. Livre de uma parte dessas amarras percebo agora que tenho um alento, um desafio e uma motivação para seguir em sala de aula e que, de fato, é o meu lugar. Trabalhar com o que se gosta é uma parte importante da vida e agora percebo vários dos porquês que me levam a pensar que fiz a escolha certa. Trabalhar com a formação de pessoas e na descoberta de suas potencialidades é algo muito gratificante.

Agora falta família e filhos heheheh!!

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