domingo, 10 de agosto de 2008

Espanando o Pó

Aproveitando ainda o texto das meninas do último post e uma mensagem de uma ex-aluna em viagem pela Espanha, resolvi escrever mais um pouco.

No texto das meninas apareceram umas frases que tomei como metáforas para algumas reflexões: “De que adianta conquistar o mundo se você não conquistou nem mesmo a sua própria cidade?
É importante conhecer as diferentes culturas, entender o que diversos povos fazem e pensam.
Mas e quando te perguntarem: 'E você, o que se faz na sua cidade?'
Seria legal ter uma resposta para essa pergunta!”. Simples e perfeito, como podemos nos arrojar a conhecer outras pessoas se não sabemos sequer quem somos? O que fazemos com a carga de conhecimento que obtemos do relacionamento com outras pessoas?

Muitas vezes deixamos as coisas acontecerem sem nos perguntarmos o porquê de muitas delas. Às vezes nos pegamos com uma certa sensação de desconforto em algumas companias (sim, eu me recuso a escrever companhias) sem sabermos qual a origem desta sensação e como lidar com ela. Outras vezes é uma incrível sensação de bem-estar em outras companias, sem sabermos a razão desta empatia. Essas coisas “de pele” acontecem seguidamente, sensações que às vezes se desfazem com o convívio mais próximo. É importante que saibamos controlar nossos impulsos iniciais para que possamos analisar tais situações com neutralidade e evitar que se cometam injustiças. Mas como fazer para controlá-los?

A resposta está dentro de cada um de nós e creio que seja muito difícil a encontrarmos sem uma boa dose de autoconhecimento. Toda vez que nos encontramos em uma situação nova tentamos sempre classificá-la em alguma parte de nosso arquivo mental, tentando utilizar uma série de padrões pré-determinados de comparação para finalmente valorar o fato novo que se apresenta. Mas como saber em que gaveta do arquivo devemos colocar as novas informações? Uma boa dica sobre o que fazer é simplesmente gastar algum tempo na organização de suas idéias, assim como uma bibliotecária conhece a sua biblioteca.

Quantas vezes me impressionei, nas bibliotecas que já encontrei pela vida (e não foram poucas), pelo conhecimento que as pessoas que lá trabalhavam tinham acerca do posicionamento da imensa quantidade de volumes que lá estavam. A simplicidade com que elas se locomovem pelas prateleiras e a rapidez com que achavam as informações é algo notável. Entra a segunda parte: “La sencillez de carácter es el resultado natural del pensamiento profundo”. O pensamento profundo corresponde aqui em minhas metáforas com o tempo que você gasta arrumando a sua biblioteca, tirando o pó dos livros e tendo sobre ela um conhecimento mais apurado. Conhecendo a si próprio você aprende a ser simples de caráter, sincero consigo mesmo e a ficar mais seguro a respeito de seus próprios comportamentos. Isso tudo gera tranqüilidade e tolerância com as diferenças, nos fazendo menos ansiosos e precipitados. Com isso passeamos tranquilamente pela nossa biblioteca, que, agora com menos mistérios, parece uma senda mais segura para trilhar os pedregosos caminhos da vida.

Nenhum comentário: