sábado, 30 de agosto de 2008

Perdendo Coisas

Perder coisas e pessoas faz parte da vida. Algumas perdas acontecem rapidamente, nos levando a um estado de lamento desesperado. Outras se anunciam com antecedência e levam algum tempo para acontecer, nos levando a um estado melancólico até o dia final.

Quando alguém próximo de nós morre inesperadamente fica uma sensação de que faltou algo, algum passeio, alguma piada, algum programa, alguma conversa, algum adeus. A recuperação é demorada. Até hoje lamento a perda de meu pai. Até hoje vejo seu sorriso constante e ingênuo em noites solitárias e chorosas quando a nostalgia bate. O que me faz retornar ao normal é lembrar tudo o que ele me deixou. A união da família, a qual ele sempre prezou muito e, sobretudo a união com meu irmão. Ele costumava dizer: o pai e a mãe vão morrer, mas o mano vai ser o teu companheiro a vida toda, não briga com ele.

Quando sabemos que a perda vai ocorrer, temos tempo de nos preparar para o momento, não que isto diminua a dor da perda, mas faz com que a recuperação seja mais rápida. Como um casamento que se encaminha para o seu fim. As coisas não funcionam direito, o diálogo já não flui naturalmente, somos levados inconscientemente a um estado melancólico e isolado que somente apressa a separação.

Quando sabemos que alguém muito próximo está de viagem, temos tempo para nos preparar para o momento final, mas nada impede as lágrimas e a sensação de perda. Ao sabermos que um parente está doente e em breve morrerá, ocorre o mesmo. Em todas estas situações de espera pelo momento da perda nos preparamos aparentemente em vão, pois quando ela chega as emoções inevitavelmente afloram.

Entretanto o que percebo é que quando temos tempo para nos preparar o período de recuperação é mais tranqüilo e curto, parece que o sofrimento prévio serviu para colocar as idéias nos lugares certos.

Recentemente fiquei sabendo que a escola onde trabalho foi sumariamente vendida por incompetência administrativa. Parece bastante claro para mim que as condições de trabalho mudarão demais para que eu possa continuar trabalhando por lá. Estou me preparando para a despedida e, por mais que eu não queira me deixar afetar, já aconteceu. Ao longo do tempo em que lá trabalhei, conheci muitas pessoas que, cada uma a seu modo, fazem hoje parte do que eu me tornei. São colegas, mais ou menos próximos, que interagem comigo e a cada momento me fazem perceber o que sou e o que pareço. Além deles, o convívio com os alunos é muito gratificante, sempre me propondo situações e idéias que me levam a superar barreiras, afetivas e profissionais. Quando entrei na sala de aula pela primeira vez depois da notícia (casualmente a turma com que tenho maior identificação) senti algo diferente no ar, no chão, nos rostos, em tudo. Já comecei a me sentir meio estranho ao ambiente.

De qualquer modo, o momento da separação um dia chegará e após ele a vida continuará. Como sempre, tentarei levar de cada uma daquelas pessoas que encontrei no caminho somente as coisas boas que me passaram. As coisas que me incomodaram, ficam para trás sem rancores. Espero poder sair de lá melhor do que entrei e levando apenas o que for construtivo.

8 comentários:

Rodolfo H. disse...

"No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade."

Albert Einstein

Caro Prof. Tarragô, não posso lhe dizer que não sofri com a nossa separação (digo 'nossa' englobando todos meus amigos e conhecidos) devido a esse transtorno que aconteceu, em primero momento, vi a terra cair sobre meus pés, mas agora, depois de ouvir muitas vezes a música do Monty Phyton "Always Look on The Bright Side of Life", do filme "A Vida de Brian", consigo notar que, mesmo passando por momentos difíceis devemos simplesmente "assoviar", erguer o queixo e continuar a caminhar, pois acontecimentos como este podem vir qualquer dia. Estou triste tambem, no dia da notícia cheguei a passar mal, mas hoje já estou aceitando melhor, espero que isso aconteça contigo também!
Mesmo que ano que vêm tu não seja meu professor, gostaria muitíssíssímo que continuassemos a manter contato, combinemos uns dias para irmos, todos nós (eu, tu e a galera nerd do 2º EM :D), tomar um café em uma cafeteria qualquer e botar os assuntos em dia, mas este é assunto para mais adiante!

Abs!

Rodolfo Heck da Silveira

Unknown disse...

Concordo com o senhor Rodolfo... em parte.

Reforço minha teoria; nada disso teria acontecido se todos nós morássemos no meio do mato. Não existiria escola para ser modificada, nem igreja para destruir as coisas (//.-), nem tarragô físico para ir embora.

O tarragô só ia ser mais um cara que mora numa caverna perto da grande árvoro, que tem umas teorias e uns conhecimentos alienígenas.

Maaas..sim, vamos continuar tendo contato e vamos marcar algo =D

Unknown disse...

E ae sor, então, li teu post, resolvi opinar também. Direto ao ponto do colégio... É triste pra nós alunos perder os professores, e até o pessoal com quem agente convive, imagino como deve ser para o professor a perda dos alunos. Pra mim, essa notícia veio como um belo soco no estomago, eu estudo no colégio há 10 anos, convivo com atuais colegas, pelo mesmo tempo, lá, já perdi amigos e professores que foram pessoas especiais, mas também fiz amigos, dos quais sou muito feliz em tê-los, e esse ensino médio, nós, turma, estávamos muito apegados a todos os professores, passamos por almoços, jantares, churrasco com futebol até filmes, juntos, e de um dia para o outro saber que tu vai perder todos professor aos quais tu mais gosta, não foi/não ta sendo fácil lidar com a situação. Nós pensávamos já até em formatura, quem seriam os paraninfos, para onde iríamos e tudo, não que não iremos mais nos formar, mas será tudo diferente, com professores que nem conhecemos...
Acho que o vínculo que foi criado entre nós alunos e professor foi muito forte e verdadeiro e não pode ser descartado assim, de uma hora para outra.
Principalmente com o careca físico, po, física, matéria cheia de cálculos, mal vista por muitos, eu sempre pensei assim também, mas hoje eu gosto, fica aterrorizando o pessoal com o LHC, falar altas nérdices, suposições de o que aconteceria se abrisse um vão na terra e caíssemos dentro fora as discussões sobre o Bóson de Higgs, os quarks, O Cosmo e lá se vai...
A despedida talvez seja adiantada um ano, mas independente disso, é evidente que se concretiza uma grande amizade, não digo só por mim.
Um comentário desabafo, mas com palavras sinceras, é isso aí Tamagoshi, - always look on the bright side of life -

Abraço!

Nícolas Gugliano Borges

Deep Red disse...

Valeu pela força seus nerds! Cara quase chorei ao ver referências a Monty Python. A Vida de Brian mora no fundo do meu coração (Biggus Dickus uhauhauhauha, impagável aquela cena) e a lembrança da última cena é realmente muito apropriada para o momento. Quando tudo parece estar errado, levanta a cabeça e vai (mesmo sendo crucificado). Um abraço por trás pra vocês.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Professor Tarragô. Primeiramente, quero parabenizá-lo pelo blog, que de todas as maneiras e percepções, faz com que qualquer um que leia sinta-se, digamos, familiarizado com as simples e tão tocantes palavras. Confesso, e sem vergonha de dizer, que esse texto é o retrato dos acontecimentos atuais e particulares à respeito de minha pessoa. Tocou-me muito a questão do companheirismo e amor entre irmãos, pois sou muitíssima próxima de minha irmã, que infelizmente não está perto de mim, mas os própositos pela ausência são aceitáveis e muito justos. Bom, mas sem lamentações (hehe), sei que para você e todos os antigos alunos do Lourdes é difícil a aceitação do "fechamento" do colégio. Mas saiba que é á partir de perdas e distanciamento que passamos a amar e gostar mais das coisas e pessoas, lembrar os melhores momentos é maravilhoso e necessário, porque paramos para pensar, "Nossa, como valeu á pena ter vivenciado todo esse tempo com todos aqueles que admiro e gosto!" Essa é a melhor parte, por isso, sempre que temos saudades, é só puxar na memória as alegrias e tristezas que passamos com aqueles que mais amamos. Sou grata de ser aluna e poder aprender, além da matéria, coisas fundamentais de convivência, paciência, compreensão e companheirismo com o senhor, mesmo com o pouco tempo de convivência. Espero e torço para que tudo dê certo para ti, em todas as questões.
Beijos Gianna Vargas 2° ano E.M

Unknown disse...

Hola Tarragô, aqui quem escreve é a Elisa, mera aluna do também, já citado, 2º E.M. do Lourdes.

Bom, como vemos pela data dessa postagem no blog, dá para se perceber que eu, "quase leitora acídua" já tinha lido a mesma, porém não havia comentado, e querendo fazer o mesmo estou aqui (\o/).
Enfim, devo confessar que quase chorei lendo isso e que quero, assim como muitos, continuar com vínculos, agora tanto mais afetivos do que profissionais, durante o ano que se segue, será que esse meu singelo desejo irá realizar-se?

Forte abraço de uma pessoa que te deseja muitas energias positivas. (;D)

Deep Red disse...

Poisóia Elisa um monte de gente estranha quando eu falo que de vez em quando me encontro com alunos e ex-alunos. Sinceramente, não tou nem aí. Pessoas cuja presença e convívio é agradável são sempre benvindas, independentemente de quem sejam, alunos, amigos, velhinhos ou crianças. Como há muito tempo me desprendi destes rótulos, creio que possamos, sim bater uns papos de vez em quando.

Ah e Giana, por favor Senhor também não!!!!