domingo, 30 de novembro de 2008

Rezar Para o Reino da Terra

Tenho um bloquinho de anotações que costumo manter sempre por perto para anotar coisas que tenha visto e me interessado. Às vezes é só um pensamento que me ocorreu e que anoto para refletir em outros momentos. Muitas vezes perco a referência de como ou quando uma certa anotação ocorreu. É o caso do que ocorre agora. Achei umas frases soltas por aqui e embora as tarefas sejam muitas neste final de ano, resolvi escrever. Começo por uma anotação que fiz enquanto assistia uma exposição de fotos sobre o Círio de Nazaré (Belém-Pa) juntamente com algumas frases catadas aqui e ali.

Na exposição estavam retratadas diversas demonstrações de fé do povo. Pessoas penitenciando-se para pagar graças atingidas ou pretendidas. Os rostos deformados pelo sofrimento forneciam um quadro perturbador e difícil de ser ignorado. São pessoas simples e que devotam seus sonhos e suas esperanças em algo além de sua compreensão, chegando a extremos de autoflagelação.

É complicado de analisar a conjuntura sócio-religiosa atual, mas vale a pena a tentativa. O que estes penitentes buscam? Quais as motivações que os leva acreditar que seu sacrifício será recompensado? Mesmo após muitas falhas, por que nunca deixam de acreditar? Essas são apenas algumas questões dentre milhares que poderia ser tratado.

É interessante notar que o nosso mundo tem se tornado mais “espiritualizado”. Por que as aspas? Porque as pessoas usam essa “energia espiritual” para conseguirem coisas materiais! É incomodativo pensar que as pessoas rezam para conseguir um emprego, uma casa, um carro, saúde, para si e para os seus queridos. Esse tipo de pedidos são tão comuns que as pessoas já não percebem o disparate que eles representam. A impressão que dá é que os grandes mistérios antigos perdem seu sentido nas mãos daqueles que usurpam a fé em benefício próprio. No final das contas troca-se sua própria vontade por uma série de rituais vazios (isso me lembra uma peça de teatro que assisti, mas que é assunto pra outro post). Parece que sou um pouco pessimista, pois estou criticando aqueles que simplesmente rezam por saúde. Mas até isso é algo desvirtuado. Nas lições que Cristo deixou, ele sempre foi bem claro que a recompensa que ele prometia a todos era espiritual, não material. O fato de ele dar alívio aos doentes às vezes soa como mais importante do que as mensagens que ele deixou. Acho que curar os doentes foi só uma forma de chamar a atenção, uma forma de propaganda primitiva. Primitiva mas eficiente. Mas como em todo o tipo de propaganda, há o risco de a mensagem ser mal compreendida (acho que seja esse o caso). É como você olhar um comercial de carro com ar condicionado e comprar um com a finalidade única de não passar calor. O fato de o carro servir para locomoção ficando em segundo plano.

O que os penitentes buscam? Coisas materiais. O que os leva a acreditar? A pressão de ter uma vida sem os confortos que as posses materiais proporcionam. Por que nunca deixam de acreditar? Porque são levados a acreditar que esse é o único meio de mudar suas vidas para “melhor”.

Onde ficam as mensagens do Cristo que eles veneram? Trancafiadas em interpretações direcionadas a mantê-los cativos de instituições religiosas lucrativas. Lembrem-se que Cristo sempre orientou que as pessoas que estivessem jejuando não dessem sinais de que o faziam. Sacrifícios pessoais são de foro íntimo e devem ser realizados por crença e não por interesse. Buscando o quê? Conforto e equilíbrio espiritual. Nada de posses, nada de material. Desse modo, procissões vão contra tudo o que o próprio mentor do cristianismo estabeleceu.

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