segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Cadê o time de fora?

Escrevo do “meu” quarto na casa da mamãe, nem o som dos pingos da chuva me faz adormecer. Pela janela entreaberta vejo as flores de dama da noite florecidas de forma a quase invadir o quarto, deixando o seu perfume espalhado pelo aposento. Acabo de terminar o livro que lia e as pequenas recordações do dia me passam vagarosamente enquanto aguardo a chegada do sono.

O dia teve momentos que me deixaram algo nostálgico. Minha sobrinha ao ver os primeiros pingos de chuva olha pra cima, Tio, dá um upa!? Upaaa!! Vamo toma banho de chuva!!?? Comecei a imaginar os pingos gelados caindo nas costas, mas ao ver aquele rostinho lembrei das vezes em que eu mesmo queria tomar banho de chuva e a mãe não deixava. Como adulto responsável e tio babão fui com ela para a chuva. À medida que os pingos caiam e me deixavam gelado, percebia a felicidade dela. Passado o trauma do choque térmico passei a desfrutar das sensações que um bom banho de chuva traz. Brincar, fazer molecagens, sentir-se livre de todas as amarras, liberar-se de todas as pressões e poder simplesmente ... rir.

Quando ia para a casa da mãe passei pela pracinha onde costumava passar parte das minhas tardes na adolescência e pré-adolescência e percebi que ela estava praticamente vazia. Na minha época, eu e meu irmão costumávamos ir ao campinho da praça e ficar jogando gol a gol. Quando chegavam mais um ou dois nos dedicávamos à modalidade do 3 dentro 3 fora. Chegando mais alguns, começávamos um 3x3 ou 4x4 mas só valia gol de dentro da área. Chegando mais gente fazíamos um jogo normal até ouvirmos alguém que chegava já gritando tem time de fora. Dependendo do dia haviam até 3 ou 4 times de fora que se revesavam no campo. Era um bocado de gente se entregando ao simples prazer de um futebolzinho no final da tarde.

Ver aquele campo vazio me fez refletir sobre as diferenças entre uma época e outra e percebo que o perfil sócio-econômico do bairro não mudou. Então por que o descaso com o esporte tão praticado outrora? As crianças de hoje estão cada vez mais precoces em tudo. Vemos alguns que voam executando tarefas à frente de um computador, usando praticamente todo seu tempo livre olhando para uma tela. Vemos crianças sendo erotizadas cada vez mais cedo por músicas, TV, outdoors, sem que isso cause nenhuma espécie de reação por parte dos pais. São crianças que a cada dia recebem uma carga de informações que ainda não têm condições de lidar. O interesse por namoros e sexo atinge crianças em idades em que deveriam estar curtindo seus brinquedos em casa e com os amigos, numa época da vida em que deveriam estar no campinho jogando bola ou brincando de casinha...

Não quero, obviamente, dizer que a evolução da sociedade a tornou pior, mas em algumas coisas o avanço foi muito rápido e sem controle. A “liberdade” que muitos gostam de falar que têm e usam, parece ter colocado alguns adultos e um estado de embriaguez permanente que, em alguns casos, beira a irresponsabilidade. Vemos famílias que se formam e se desmancham deixando para trás um rastro de infelicidade para os filhos gerados ao sabor de um momento, sem planejamento, sem noção do mal que podem estar fazendo ao gerar uma criança a qual não terão condições de criar.

Deve haver outros motivos para o esvaziamento do campinho que estava sempre lotado há 20 anos atrás, citei só uns que me vieram a cabeça (agora já sonolenta). Então deixo a pergunta a quem desejar responder: Cadê o time de fora?

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